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Instituto Ecotece: Empoderamento Social e Novas Lógicas de Produção na Moda

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  • Marina Colerato
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A moda pode, e deve, ser usada como ferramenta de transformação social, mas a dificuldade entre teoria e prática é imensa. São muitos os desafios que estilistas, empresas e os atualmente chamados de empreendedores sociais encontram nessa trajetória. Dificuldades financeiras, falta de braços para suprir todas as necessidades, a capacitação e o trabalho constante com os grupos produtivos e conquistar seu espaço dentro da cadeia produtiva de moda são alguns deles.

O Instituto Ecotece entende todas essas dificuldades, no entanto não desanima em sua missão de mudar as lógicas de produção e consumo da moda. Pelo contrário, o projeto cada vez fica mais forte. “São vários pontos para os quais precisamos olhar e cuidar”, conta Julia Toro, uma das seis integrantes do time hoje. “Desde a produção da matéria-prima, fornecimento de mão de obra, valorização dos saberes artesanais até como comunicamos isso e que tipo de consumo queremos inspirar”.

O Ecotece busca garantir maior horizontalidade nas relações e incentiva que marcas entendam os grupos produtivos como parceiros e não simplesmente como executores de uma tarefa.

Fundado em 2005 pela jornalista Ana Cândida Zanesco, o objetivo do Ecotece era falar sobre moda sustentável quando ninguém falava sobre o assunto. Antes de ser o que é hoje, o Ecotece era um instituto de pesquisa e educação atuando por meio de um portal online informativo que reunia artigos acadêmicos, pesquisa e cases sobre o tema. Aos poucos, a empreitada foi ganhando outros braços, até porque existia a necessidade de ser uma iniciativa economicamente viável.

Nesse momento, o Ecotece lançou uma marca de camisetas e foi a primeira vez que o projeto colocou a mão na massa para produzir produtos. “Começamos a entender naquele momento a dificuldade de aplicar na prática o que estávamos pesquisando sobre o tema na teoria e também a nos questionar sobre quem faria nossos produtos”, conta Lia Spínola, diretora do Ecotece desde a saída de Ana Cândida em 2011.

Foi com essa produção de produtos que o projeto entendeu o potencial da moda para transformação social e criou o Retece, na época uma metodologia para gerar reflexão sobre moda e sustentabilidade para mulheres na periferia de São Paulo e, ao mesmo tempo, gerar trabalho e empoderamento social.

Fazendo moda sob uma nova lógica.

Começava a ser esboçado ali em 2009 o que hoje é conhecido como Ecotece+, um dos principais pilares do instituto que une marcas de moda a grupos produtivos de pessoas em vulnerabilidade social. “Ganhamos um prêmio e conseguimos implementar o projeto no Jardim Santo André”, relembra Lia. “Mobilizamos as mulheres interessadas e desenvolvemos o projeto durante um ano”. No fim desse um ano, as mulheres formaram um grupo produtivo e o Ecotece começou a se mobilizar para que mais marcas trabalhassem com o grupo fruto do Retece e que hoje leva esse nome.

A partir dessa perspectiva, o Ecotece entendeu que seu papel era fortalecer grupos produtivos já existentes por meio da geração de renda e começou fazer a ponte entre eles e as marcas interessadas em produzir sob um nova lógica. Flávia Aranha, Cavalera, Luiza Perea e My Basic são algumas das marcas que já trabalharam com o Ecotece por meio de grupos que fazem estamparia, bordado, renda renascença e confecção. Cada vez mais a ideia da empreitada é formar uma cadeia produtiva completa com outros conhecimentos, técnicas e saberes.

Mães da Oca é um grupo especializado em renda renascença .
O grupo Arteiras Maristas trabalhando na criação dos bordados para coleção da Flávia Aranha no próprio ateliê da estilista.

Entretanto, o trabalho por meio do Ecotece+ vai muito além de fazer a ponte. O Ecotece busca garantir maior horizontalidade nas relações e incentiva que marcas entendam os grupos produtivos como parceiros e não simplesmente como executores de uma tarefa. Fortalecer a relação entre quem cria e quem produz, e ao mesmo tempo humanizar as relações, é uma maneira que o instituto enxerga de promover maior equidade de poder na cadeia produtiva da moda. “Na prática, isso se traduz, por exemplo, em orçamentos elaborados de maneira compartilhada, horas de trabalho saudáveis e criação colaborativa”, explica Julia.

Aprimorar para crescer.

Neste trabalho em conjunto com os grupos produtivos, o Ecotece entendeu também que era necessário um esforço de aprimoramento em três diferentes frentes: técnicas e qualidade de produção, gestão, finanças e comercial, esse último para garantir que o Ecotece não seja a única fonte de serviços dos grupos. Por meio de editais, o instituto consegue trabalhar mais de perto nos pontos fortes e fracos de cada grupo produtivo para uma maior excelência. Ainda mais numa indústria que vive se reinventando como a moda, o Ecotece acredita na importância de ter mais dinamismo e deixar as pessoas mais preparadas para o novo e para produção mais complexas. “Se um grupo só costura ecobags, na hora que chegamos com um outro tipo de produto, eles vão sentir dificuldade”, comenta Julia. “A nossa proposta é sim trabalhar com vários níveis de grupo e pensar em formação de uma rede, mas entendendo que é necessário um constante aprimoramento e reinvenção, seguindo a própria lógica da moda”.

Há também a intenção de aprimorar os grupos para chegar em grandes marcas, que têm, além de muito capital financeiro, uma capacidade grande de influenciar comportamentos e opiniões. Julia afirma que é um desafio, até porque grandes marcas têm outras burocracias internas, além de jurídicas, mas é um caminho que está sendo traçado por meio não só do aprimoramento interno como também do incentivo à formalização, já que esse é outro problema de muitos grupos produtivos.

De olho no futuro.

Em 2016, o Ecotece lançou o projeto LABMODA+, uma ação para unir marcas, estudantes de moda e grupos produtivos. Entendendo os estudantes como o futuro da moda, o Lab Moda Mais abriu um edital que selecionou 14 estudantes de diversas faculdades para participar de várias dinâmicas criativas pensadas a partir de uma nova lógica de produção. “[A universidade] é um lugar onde a gente quer estar. Ainda não temos braço para isso, mas entendemos como um ponto estratégico. Os estudantes são a moda do futuro”, comenta Julia.

Para conhecer mais sobre o Ecotece, acesse o site e acompanhe no Facebook e Instagram.

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