Organização de mídia, pesquisa e educação sem fins lucrativos que atua por justiça socioambiental e climática por meio de uma perspectiva ecofeminista.

pesquise nos temas abaixo

ou acesse as áreas

apoie o modefica

Somos uma organização de mídia independente sem fins lucrativos. Fortaleça o jornalismo ecofeminista e leve a pauta mais longe.

Do Plástico à Sustentabilidade Há Um Longo Caminho Para a Melissa Percorrer

Publicada em:
Atualizada em:
Apresentado por
Texto
  • Marina Colerato
Imagens

Divulgação

4 min. tempo de leitura

Plástico é fantástico. Isso é tão verdadeiro para a Barbie quanto para a Melissa, marca brasileira de calçados do grupo Grendene que, por meio de parcerias com designers renomados como Alexandre Herchcovitch, Vivienne Westwood, Jason Wu e Karl Lagerfeld, e um trabalho constante de marketing, foi conquistando seu espaço na moda, arte e design nos últimos 20 anos.

Um marco nessa trajetória foi a abertura da Galeria Melissa no Brasil (em 2006), em Nova York (em 2012)  e em Londres (em 2014), e devemos esperar novidades na Ásia como parte do plano de internacionalização da Melissa. Ainda assim, o mercado nacional é o grande impulsionador de crescimento da empresa, com a franquia Clube Melissa somando 241 lojas pelo país.

Um dos pontos chaves do crescimento da Melissa é o contato constante da marca com o público, se colocando num papel de articuladora cultural através de ações como o projeto Meio-Fio, responsável por mapear e impulsionar novos criadores, artistas, fotógrafos, estilistas, escritores e afins. A investida tem dado resultado e a Melissa conquistou seu espaço dentro de um dos mais conceituados eventos de arte de São Paulo, a SP-Arte.

Com ações como essa, a marca consegue também ficar ligada às demandas que impactam no mercado de moda. No final de 2015, a Melissa começou a produzir sapatos em numeração maior, para atender tanto o público feminino, quanto o masculino, quanto o não-binário. Começou com a Melissa Flox e depois outros modelos foram incluídos, gradativamente, nas coleções. É nessa direção que a marca tem cada vez mais guiado suas campanhas, e temos que admitir que, de fato, tem feito trabalhos muito bons nesse sentido.

100% Plástico.

A procura cada vez maior por produtos de moda e beleza veganos foi outra demanda a qual marca se atentou. A fórmula do plástico usada nos calçados sofreu alterações e foram excluídos os 4 ingredientes de origem animal anteriormente usados na composição do PVC. Agora você encontra nas solas da Melissa uma vaquinha, o símbolo criado pela marca para atestar que as Melissas são veganfriendly e 100% plástico.

Carlos André Carvalho, Gerente de Desenvolvimento Sustentável do grupo Grendene, nos explicou que a substituição ocorreu em um desenvolvimento colaborativo com os fornecedores. “Eram 4 componentes relacionados à lubrificação e plastificação dos materiais. Em um determinado momento, nos questionamos se éramos 100% plástico e quais as mudanças nas fontes de matérias-primas que poderíamos fazer para ser”, explicou ele. “Em 6 meses conseguimos substituir alguns componentes e, depois de 1 ano, tínhamos todos os componentes substituídos.”

A vaquinha é o novo símbolo da Melissa para garantir 100% plástico e nenhuma matéria-prima de origem animal

Sustentabilidade.

Ainda assim a matéria-prima da Melissa é inegavelmente problemática. Oriundo do petróleo, o PVC provém de fontes não-renováveis e acarreta muitos impactos negativos para o meio ambiente, para os animais e para as pessoas (tanto no processo de produçãoquanto no descarte). Carvalho afirma que o PVC usado para produção dos sapatos é 100% reciclável e já há tecnologia em fábrica para reutilização do material. “Podemos utilizar no ciclo fechado de produção um percentual de 30% de reciclado, pois garantimos aspectos de design e técnicos do produto. Este sistema da operação tem o menor consumo de energia, água e geração de resíduos”, atesta ele.  Essa equação implica ainda num uso de 70% de matéria-prima virgem na mistura de componentes.

Igualmente complicado é o método de produção. O plástico é injetado em uma forma moldada e há muita sobra de material ao redor desse molde. Essa sobra passa a ser considerada resíduo e é descartada. Segundo o Relatório da Administração de 2016, em comparação com 2015, a Grendene conseguiu diminuir em 16% a geração de resíduos por par produzido, mas não atesta resíduo zero. Para ter uma ideia de volume e demanda, no primeiro trimestre de 2017, a Grendene vendeu 37,9 milhões de pares globalmente (números que incorporam todas as marcas do grupo).

Para avançar nas práticas sustentáveis, a Melissa precisa também incorporar a logística reversa, atualmente inexistente. Ou seja, por um lado a empresa está a frente por usar uma matéria-prima sem misturas e de fácil reciclabilidade. Por outro lado, com a ausência de logística reversa, os sapatos usados não são devolvidos para a empresa, a matéria-prima não volta para o ciclo de produção e os sapatos não são reciclados. “Estamos realizando um estudo de ciclo de vida de produto, para entender qual o melhor caminho de como realizar este processo com o menor impacto ambiental e custo”, explica Carvalho.

Mas além de diversidade nas campanhas de marketing e questões técnicas acerca de processos de produção em fase de estudo, como a Melissa está tratando a sustentabilidade social e ambiental dentro da cultura da empresa?  “Acreditamos que o principal indicador de sustentabilidade de uma empresa é a geração de lucro e a solidez financeira”, afirma o Relatório da Administração de 2016 do grupo Grendene. “Este fator denota que os consumidores pagam pelos produtos da empresa mais do que custam os insumos extraídos da natureza para fabricar e distribuir estes produtos. Além disso, garante a continuidade da empresa e a geração de empregos bem como a satisfação das necessidades de milhares de clientes que compram e usam seus produtos”.

* * *

Jornalismo ecofeminista a favor da justiça socioambiental e climática

Para continuar fazendo nosso trabalho de forma independente e sem amarras, precisamos do apoio financeiro da nossa comunidade. Se junte a esse movimento de transformação.