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Think Before You Pink e o Que Você Precisa Saber Sobre ‘Pinkwashing’

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  • Juliana Aguilera
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Unsplash

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Você já parou para se questionar o que acontece com aquele dinheiro que você investiu em um produto de uma linha do Outubro Rosa? Muitas empresas avisam através da cor, do laço rosa, ou de chamadas que uma porcentagem é doada a entidades que lutam pela prevenção do câncer de mama. Mas quanto desse dinheiro é realmente doado? E para qual ONG ou projeto? É isso que começou a ser questionado por um grupo em São Francisco, em 2002, Think Before You Pink (Pense antes de ser rosa). O projeto procura fiscalizar empresas de todo o país que fazem linhas especiais dos seus produtos para o Outubro Rosa.

Nascido da ONG Breast Cancer Action, o Think Before You Pink busca denunciar “pinkwashers”, termo inventado para designar empresas que, ao mesmo tempo em que afirmam ser uma entidade consciente e apoiadora do Outubro Rosa, usam ingredientes em alguma fase de produção que são ligados a contração de câncer de mama.

Esse posicionamento falso em relação as suas ações de combate à propagação da doença rendeu grandes campanhas nacionais com abaixo assinados destinados às empresas. A campanha mais recente do grupo é contra a maior cultivadora de frutas cítricas dos EUA, que foi denunciada por usar restos de água residuais proveniente de companhias de óleo para irrigar suas frutas cítricas – e ao mesmo tempo usam o laço rosa para vende-las.

Além de campanhas consideradas questões urgentes de saúde pública, a Think Before You Pink também realiza eventos em prol da conscientização e prevenção do câncer de mama em todo país, como palestras, debates e caminhadas. Aliada a campanhas da ONG, o foco do grupo é tomar medidas não só preventivas para que mulheres compreendam melhor como diminuir as chances de contração, mas também ajudar aquelas que estão no processo de vencer a doença além de cortar a raiz do problema com intervenções na sociedade, tais como as denúncias a irregularidades das empresas que apoiam o Outubro Rosa.

Outra campanha nessa direção é o #RethinkThePink, do Breast Cancer Fund, que luta para eliminar as causas ambientais relacionadas ao câncer de mama, questionando os ingredientes dos cosméticos, dos produtos de limpeza e higiene pessoal, e também das indústria alimentícia. Recentemente, eles lançaram uma lista de empresas que são, de fato, preocupadas com o câncer de mama e que vale à pena apoiar.

E no Brasil?

Com base em algumas indicações do TBYP, procuramos ver como o mercado brasileiro agiu neste Outubro Rosa. As perguntadas que você deve fazer sugeridas pela projeto são:

1. Quanto do valor da sua compra realmente vai para a causa?
2. Qual o limite máximo que será doado?
3. Quanto dinheiro foi gasto no marketing do produto?
4. Como os valores estão sendo arrecadados?
5. Para qual organização de câncer de mama o dinheiro vai e quais tipos de programa ele ajudará?
6. O que a empresa está fazendo para assegurar que seus produtos não estão contribuindo para a epidemia do câncer de mama?

Fazendo uma busca por empresas de diferentes áreas, destacamos algumas campanhas bem orientadas – outras nem tanto-, que ou informaram a porcentagem do lucro do produto a ser doada ou a qual entidade seria destinado o dinheiro, além das que cederam seu espaço para eventos de conscientização.

Shoppings de diversas partes do Brasil, como o Complexo Tatuapé, abriram salas especiais, eventos com palestras, arrecadação de lenços e maquiagem para pacientes, atendimento com exame preventivo, entre outras ações, tudo em conjunto com empresas colaboradoras e ONGs. A ONG Orienta Vida estava na parceria, com a campanha Pense Rosa: cada R$ 150 de cupons gastos no shopping poderiam ser trocados por uma pulseira confeccionada artesanalmente por mulheres carentes beneficiadas pelo projeto.

É nessa época do ano também que ONGs criam uma programação especial: com o Outubro Rosa, elas conseguem recursos a mais com linhas especiais que ajudam a mantê-las ao longo do ano. A Rede Feminina, em Maceió, é uma delas. Viver de doações não é fácil, com uma cadeia de colaboradoras enorme, a entidade programa bazares, bingos especiais para a arrecadação de dinheiro que será utilizado no apoio aos diversos pacientes que moram, comem e utilizam do transporte da ONG para ir aos hospitais.

O Instituto Se Toque fez uma parceria com a marca de produtos de decoração e lifestyle Imaginarium. Parte das vendas do Mini Copo Power, feito em edição limitada, será destina ao Instituto.

Gigantes dos cosméticos e farmacos também costumam apoiar a causa. A Avon, por exemplo, procurou chamar a atenção para a causa por meio do novo perfume, cuja parte da renda na fase de lançamento será revertida a projetos amparados pelo Instituto Avon que apoiam mulheres no combate ao câncer de mama. No site, a empresa mostra sua contribuição em números: em 12 anos de atuação no Brasil, o Instituto Avon investiu mais de R$ 70 milhões em cerca de 180 projetos, voltados ao bem estar da mulher.

Também aconteceu a modificação de produtos já existentes como mudança na cor, adicional de chaveiros ou laços rosa, para a conscientização da causa. A empresa Dermacyd foi uma das que adotou o método: a nova versão do sabonete íntimo da empresa veio na cor rosa e destina R$ 1,00 do produto a ação Saúde Íntima para Todas. Além disso, entre os meses de outubro e novembro, a empresa disponibiliza um caminhão adaptado que percorrerá comunidades do Brasil com atendimento gratuito de ginecologistas.

Entretanto, em se tratando de empresas de cosméticos e farmacos, como é o caso da Avon e Dermacyd, mesmo com valores altos doados e campanhas preventivas em ação, permanece a sensação de “pinkwashing” já que muitos ingredientes usados nas formulações dos seus produtos já foram linkados ao desenvolvimento de câncer.

Em um texto para o The Huffington Post, We Can’t Waste Another October: End Pinkwashing and Stop Cancer Before It Starts (Nós Não Podemos Desperdiçar Outro Outubro: Acabe Com O Pinkwashing e Previna O Câncer Antes Dele Começas), Karuna Jaggar, Diretora Executiva da Breast Cancer Action, aborda exatamente esse assunto. Ela ressalta não só as ações de empresas do segmento dos cosméticos e beleza que formulam seus produtos com ingredientes duvidosos, como também campanhas de empresas de alimentação e até indústria automobilística.

Outras ações podem ser vistas como a mudança de logotipo da rede de canais da TV paga, Discovery, que também veiculou depoimentos inspirados em casos reais de mulheres que combateram a doença. A Vivo lançou a webserie “Conectadas somos mais fortes”, que conta depoimentos reais de quatro mulheres com câncer de mama. A Azul, em parceria com a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), ofereceu em seus voos discurso sobre mulheres que venceram a doença.

A legislação brasileira tem um bom incentivo para empresas fazerem doações a entidades sociais em forma de desconto em taxas governamentais. Por isso, vemos diversas campanhas que ajudam na propagação da missão do Outubro Rosa: a conscientização, prevenção e combate ao câncer de mama.

Entretanto, vale lembrar que uma das sugestões do Think Before You Pink é que se a empresa não diz quanto do seu dinheiro irá para programas de pesquisa ou auxílio a portadores da doença, considere fazer uma doação direta para ONG’s ou projetos relacionados ao tema. No próximo Outubro Rosa, e em todas as campanhas filantrópicas, vamos ser mais curiosos e considerar a doação direta.

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