Organização de mídia, pesquisa e educação sem fins lucrativos que atua por justiça socioambiental e climática por meio de uma perspectiva ecofeminista.

pesquise nos temas abaixo

ou acesse as áreas

apoie o modefica

Somos uma organização de mídia independente sem fins lucrativos. Fortaleça o jornalismo ecofeminista e leve a pauta mais longe.

2015 Foi O Ponto De Virada Para Moda. Mas O Que Podemos Esperar Para 2016?

Publicada em:
Atualizada em:
Texto
  • Ana Carolina Incerti
Imagens

Reprodução

3 min. tempo de leitura

Pelo que li nos jornais e no meu feed do Facebook, 2015 foi um ano, digamos, conturbado para muita gente. Na moda, não foi diferente. Mas, apesar de alguns conceitos engessados tentando conter meu otimismo, não consigo terminar esse ano com um saldo negativo sobre setor no qual escolhi atuar. Pode ser impressão minha, mas sinto que muita coisa mudou – e muita coisa boa está para acontecer.

Os pessimistas dirão que o trabalho escravo ainda está aí e as vendas da Forever 21 estão indo muito bem, obrigada. É verdade, não posso negar. Mas também não posso negar que fico feliz em ver cada vez mais pessoas se informando sobre as roupas que consomem e cada vez mais blogs falando sobre o assunto com muita propriedade.

Para quem não acompanhou, a Box 1824 – uma das agências de comportamento de consumo mais importantes do Brasil – elegeu o Lowsumerism como a principal tendência da atualidade. Isso significa que, gradativamente, as pessoas estão repensando suas escolhas e, quem sabe, em breve perceberão o consumismo como uma realidade ultrapassada.

Há quem bata insistentemente na tecla de que a indústria têxtil é uma das indústrias mais poluentes do mundo. Sim, isso é um fato amplamente conhecido e não pode ser ignorado. Porém, pouco se ouve falar sobre as muitas iniciativas que tentam reduzir esses impactos. Só para citar como exemplo, nesse ano, a Kering (holding francesa que administra marcas como Alexander McQueen e Stella McCartney) desenvolveu um processo de curtimento do couro totalmente livre de crômio e metais pesados e o utiliza em todas as suas marcas.

Pensando em ampliar o alcance desse novo método, a empresa disponibilizou online, junto a uma biblioteca com mais de 1.500 fibras e materiais que foram desenvolvidos de maneira sustentável, todo o processo de curtimento para que outras marcas também pudessem utilizá-lo. É ótimo ver as marcas de percebendo a importância de transformar os processos de fabricação de roupas, acessórios e joias. Isso é ainda melhor se levarmos em consideração o fato que para onde o mercado de luxo vai, o resto segue atrás.

moda-2015-kering-stella-campanha


Campanha Stella McCartney // Reprodução

Porém, não se pode falar de moda pensando só em quem consome ou nos processos que fazem parte da sua cadeia produtiva. É preciso falar sobre quem faz também: designers exaustos, por exemplo, se veem obrigados a criar, no mínimo, 6 coleções por ano para acompanhar o ritmo desenfreado da moda. Essa é uma condição real responsável por levar muitos delas ao estresse, à depressão e a outros vícios que podem ser fatais.

Os sinais de exaustão dados por esses estilistas sob pressão foram nítidos em 2015. Segundo a colaboradora da Vogue americana Maya Singer, esse ano parece ter sido o ano em que a moda disse “basta!”. Para ela, a saída de designers como Raf Simons, da Dior, e Alber Elbaz, da Lanvin, estão diretamente relacionadas à estafa criativa vivida pelos designers.

Atuar em marcas menores é uma tendência natural que leva a uma moda mais lenta e autoral. Pense em quantos designers estão abandonando a carreira em grandes empresas para montar suas próprias marcas, onde podem atender a um público que compartilha dos mesmos valores e acredita no estilo criativo do estilista.

A tudo isso, some o cenário global de crise econômica e escassez de recursos: os consumidores, de maneira geral, estão mais espertos, pensando mais no valor do seu dinheiro e não vão consumir qualquer coisa exposta na vitrine.

Essa nova realidade é ameaçadora para empresas que insistem em antigos modelos de negócios, já sem sentido no contexto de mundo atual. As mudanças que estão acontecendo – mesmo que aos poucos – estão interligadas e são um caminho sem volta. Um caminho que aponta para o novo e que vai deixar pra trás quem se recusa a crer nas pequenas revoluções.

É, pode ser impressão minha mesmo… Mas os pessimistas que me perdoem, eu prefiro ver as mudanças como novas possibilidades para o futuro. Afinal, a moda pode ter se cansado dela mesma, mas não perdeu o fôlego para se reinventar. Feliz moda nova.

* * *

Jornalismo ecofeminista a favor da justiça socioambiental e climática

Para continuar fazendo nosso trabalho de forma independente e sem amarras, precisamos do apoio financeiro da nossa comunidade. Se junte a esse movimento de transformação.