Coronavírus: “Estou Preso em Isolamento com Meus Pais Homofóbicos”
Por Time Modefica
Ilustração: Victória Lobo

Diante do contexto da pandemia de Covid-19, há alguns fatores que impactam a saúde mental e o bem-estar psicológico da população em geral, diante do medo de ser infectado pelo vírus, que é de rápida e fácil disseminação, fazendo surgir sintomas de ansiedade, depressão e estresse, além da presença de relatos de casos de suicídio potencialmente ligados aos impactos psicológicos dessa pandemia, e ainda os efeitos psicológicos negativos em decorrência da quarentena, como sintomas de estresse pós-traumático, confusão e preocupações oriundas das perdas financeiras (Schmidt et al., 2020).
Não só os pacientes como a população em geral estão expostos aos efeitos da pandemia na saúde mental, devido ao afastamento das relações familiares e sociais, pelo risco da contaminação do COVID-19. Assim, toda a sociedade pode vivenciar tédio, decepção, irritabilidade e sentimentos negativos nas medidas de isolamento com sintomas de esquizofrenia e depressão. (Lima et al., 2020, p. 3)
A partir desses acontecimentos, tem ocorrido modificações profundas do ponto de vista político, econômico e social nas vidas das pessoas, alterando o cotidiano delas como um todo, o que inclui a própria rede de sociabilidade devido ao necessário isolamento social, afetando de maneira desigual diferentes grupos sociais.
Nesse sentido é possível elencar alguns grupos mais vulneráveis à pandemia da Covid-19 frente às distintas realidades desiguais do nosso país: “[…] pessoas com baixa renda, vivendo em assentamentos informais, minorias, indígenas, migrantes e refugiados, pessoas privadas de liberdade, pessoas com deficiência, LGBTI+, populações em situação de rua, entre outros” (Melo et al., 2020, p. 3).
Entre tais grupos, a população LGBTI+ se configura como um dos grupos mais vulneráveis a diversos fatores, incluindo aqueles agravantes à própria saúde mental. Trata-se de uma população que cotidianamente enfrenta a LGBTIfobia estrutural da sociedade e, em contexto de necessário isolamento social, está vulnerável a tais situações expressas por meio de violências físicas e psicológicas dentro de casa, além da fragilização da própria rede de sociabilidade.
Algumas situações são exemplificadas por meio dos estudos citados por Salerno, Williams e Gattamorta (2020) como: o fato de muitos LGBTI+ não receberem apoio familiar referente a sua identidade de gênero ou orientação sexual, o que os colocam em uma situação de maior vulnerabilidade tanto à depressão quanto ao suicídio. E, ao mesmo tempo, os autores também destacam que a estadia em casa de jovens LGBTI+ pode reduzir ainda mais o acesso a recursos sociais e de apoio comunitário nas escolas, como alianças de gênero e sexualidade. Já os idosos LGBTI+ são mais propensos a viverem sozinhos, o que é identificado como um fator de risco para a experiência da solidão.
Além disso, durante a pandemia, pode ocorrer o aumento dos casos de violência entre membros da família, em decorrência das consequências psicológicas do longo período de confinamento, que pode aumentar o estresse psicológico e o aumento dos conflitos interpessoais, por causa de fatores relacionados aos impactos econômicos nas famílias (Melo et al., 2020).
As dificuldades também se mostram presentes para aqueles LGBTI+ que precisam se mudar durante a pandemia, como aqueles que precisaram voltar para casa depois que as aulas nas universidades foram suspensas, ou mesmo para cuidar de membros doentes da família, cortando processos de terapia que podiam já estar em curso, de modo a perder um recurso importante de proteção contra o
trauma pandêmico da Covid-19 (Salerno, Williams e Gattamorta, 2020).
Em algumas matérias, como a que dá título à esta sessão, relacionam a temática do isolamento social de pessoas LGBTI+ durante a pandemia e o seu convívio com famílias potencialmente LGBTIfóbicas, de modo que é possível identificar discursos como este apresentado pelo jovem Sam, de 23 anos, do Reino Unido:
Minha mãe diz que a homossexualidade é uma doença maligna e que o diabo está me tornando gay. Ela reza em voz alta todos os dias para que eu seja libertado do pecado e encontre uma esposa. Eu realmente não tenho outro lugar para ir durante esse período de loucura, então estou apenas suportando o abuso. (HUNTE, 2020, n.p., tradução nossa)[1]
Trecho do Livro População LGBTI+, vulnerabilidades e pandemia da Covid-19,organização de Antonio Deusivam de Oliveira e prefácio de Valdenízia Bento Peixoto. Trecho publicado com permissão da Editora Papel Social. Compre pela pré-venda.
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Time Modefica
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