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5 Alternativas Eco-Friendly e Livres de Crueldade Para o Couro

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Mitos ou equívocos amplamente aceitos são difíceis de dissipar, em particular no mundo da moda mainstream, onde a qualidade e a ética relacionados a um produto nem sempre são claras. Esse é frequentemente o caso nas discussões sobre materiais usados para substituir o couro e a noção errônea de que esses materiais são, por natureza, ruins para o meio ambiente ou de menor qualidade quando comparados ao couro feito a partir de peles de animais. Isso é frustrante de ouvir, especialmente quando você está no negócio de tentar promover a moda que não só é livre de crueldade, mas também de alta qualidade.

Eu já escrevi sobre isso antes, mas eu não canso de dizer: materiais feitos para substituir o couro não são todos produzidos da mesma maneira. Assim como existem diferentes graus de qualidade e habilidade envolvidos na produção de praticamente qualquer mercadoria, existem vários graus de qualidade e sustentabilidade na produção de tecidos e têxteis que caem sob o amplo guarda-chuva dos “não-couros”.

Certamente, temos lojas de fast-fashion que comercializam acessórios com as tags “vegan leather” (couro vegano) ou “material sintético”, e eles são, provavelmente, mais baratos e produzidos em uma fábrica em algum lugar na Ásia, onde a regulamentação do trabalho e medidas de segurança são muitas vezes inexistentes ou não aplicadas, além de serem normalmente produzidos com matérias-primas como PVC, que, obviamente, não são consideradas eco-friendly.

Entretanto, o mercado vem respondendo ao movimento crescente de pessoas querendo viver de maneira mais sustentável e mais interessadas e conscientes sobre suas opções de compra, então temos observado um aumento no número de produtos feitos de maneira ética e mais responsável para com o meio ambiente.

Abaixo, mostramos 5 materiais usados para substituir o couro que são mais sustentáveis e te contamos quais marcas já estão usando cada um deles.

1. CORTIÇA

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Bolsa em cortiça da Jentil // Reprodução

Este material verdadeiramente natural e sustentável, feito a partir da casca do sobreiro, um tipo de carvalho europeu, está tendo seu momento de glória na moda vegan e eco-friendly. É uma material versátil, bem visto por sua capacidade de manter a resistência e durabilidade, mesmo quando trabalhado em espessuras bem finas. Jentil, uma marca de acessórios com sede em Londres, produz toda a sua coleção a partir da cortiça colhida em Portugal. A fundadora da Jentil, Pantxika Ospital observa:

“Sustentável, reciclável e biodegradável, a cortiça é simplesmente um material incrível. É macio, leve, flexível, resistente e impermeável. Pode ser tingido e se adaptar a muitos estilos. É versátil, resistente e tão natural como o natural pode ser! A cortiça é o material final para a produção de bolsas e acessórios comumente feitos de couro e acaba sendo, de fato, amplamente conhecida como “couro vegano” ou “pele de cortiça”. É difícil de acreditar que este material bonito cresce em árvores.

Feita a partir da casca do sobreiro, que cresce na região do Mediterrâneo, a cortiça é colhida a cada dez anos, sem prejudicar a árvore. As árvores podem viver até 250 anos, contribuindo para a diversidade da vida selvagem, ajudando na luta contra os incêndios florestais, e proporcionando uma renda sustentável para as populações locais.”

Todos acessórios da Jentil são feitos de cortiça extraída de florestas certificadas pelo FSC. Para reduzir ainda mais o impacto ambiental, a marca utiliza colas à base d’água em seus acessórios e produz suas coleções em um fabricante que está disposto a fazer esforços para ser mais sustentável. Por exemplo, no fornecedor da Jentil, o pó criado a partir da produção de cortiça é usado para aquecer a fábrica.

Outras marcas responsáveis por incluir cortiça em seus designs são a americana Sydney Brown e a canadense Matt and Nat.

Nota da editora: no Brasil, a Ahimsa também incorpora a cortiça na sua produção.

2. Camurça-Eco

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Bota Bhava em camurça-eco // Reprodução

Várias marcas têm introduzido o uso de camurça-eco em suas coleções. Essa camurça tem a mesma aparência da camurça feita a partir de peles de animais, mas é menos extensiva no uso de recursos naturais e sem crueldade para com os animais. Algumas dessas marcas usam uma microfibra de camurça-eco feita com 100% poliéster reciclado reconstituído a partir de materiais pós-industriais, como filme plástico de sucata ou outros materiais plásticos (as mais conhecidas são a Sensuede, ultrasuede™ e Dinâmica®).

A marca de calçados e acessórios veganfriendly Bhava Studio usa materiais veganos e eco-friendly em seus sapatos e eco-camurça em seu mais novo modelo Sara. Francisca Pineda, fundadora da Bhava, utiliza um tipo específico de camurça-eco, importada de um único fornecedor, no Japão. Sobre este tecido Pineda diz:

“O que a maioria das pessoas não sabe é que ele é realmente mais caro do que camurça da vaca, porque não há nenhuma transparência na importação de couros da China. A maioria das peles vêm das regiões mais pobres do mundo, como Dhaka, que pagam os trabalhadores 2 dólares por dia. Em um sistema transparente, onde os trabalhadores estão entre os mais bem pagos do mundo, como no Japão, isso vai fazer uma enorme diferença no preço dos produtos, mas é uma diferença da qual somos orgulhosos.”

Além do fato deste material ser feito a partir de plásticos que seriam descartados, é preciso também considerar seus outros benefícios de sustentabilidade quando comparado ao couro feito a partir de peles de animais.

A indústria de curtumes está entre as indústrias mais tóxicas do mundo, responsável ​​pela poluição de comunidades inteiras, localizadas próximas de suas fábricas, por produtos químicos tóxicos e resíduos. Dos 270 curtumes localizados em Bangladesh, cerca de 90% deles estão localizados em Hazaribagh em Dhaka, que, em 2013, foi listado pelo Instituto Blacksmith como uma das 10 ameaças tóxicas do mundo. O relatório afirma que, em uma base diária, os curtumes despejam 22.000 litros cúbicos de resíduos tóxicos no rio Buriganga, o rio principal de Dhaka. A Human Rights Watch detalhou as repercussões na saúde dos curtumes em Hazaribagh em um relatório de 102 páginas publicado em 2012.

Com relação ao efeito devastador desses curtumes sobre o meio ambiente e as pessoas que vivem nas comunidades do entorno, Pineda diz: “Você pode pensar em algo pior do que transformar um ambiente numa zona morta permanente para todas as formas de vida para sempre? A ironia final é que estas peles são vendidas para atacadistas em Hong Kong, Coréia e Itália para produzir bens de “luxo”, sem qualquer transparência para os clientes. Às vezes, eu me deparo com lojas que consideram os nossos sapatos muito caros porque eles não são de couro “autêntico”. Nós precisamos de muita educação, porque o couro que está sendo comercializado como “luxo” é para mim um símbolo do lado mais sombrio da humanidade”.

Outras marcas conhecidas por usar a camurça-eco são James Payne e Brave Gentleman

3. Algodão Encerado

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Bota de algodão encerado da Nicora // Reprodução

Inicialmente criado como um tecido de desempenho para ser utilizado na indústria de vela, o algodão encerado é um tecido durável conhecido por sua flexibilidade, longevidade e resistência à água. Após a sua criação, a lona encerada rapidamente substituiu o tecido à base de petróleo como a melhor alternativa para tecidos resistentes à água.

A lona encerada é uma alternativa atraente para couro porque ele tem boa usabilidade, e desenvolve até mesmo cicatrizes e pátinas como o couro. Na verdade, quando preservada adequadamente, uma bolsa de lona encerada ou jaqueta pode durar uma vida. De todos os tecidos eco-friendly que caem sob o guarda-chuva do “não-couro”, a lona encerada é o material mais fácil de encontrar entre marcas mainstream; a lona encerada de algodão orgânico é, obviamente, a opção mais eco-friendly.

A marca de calçados Nicora, fez uma versão de lona encerada da sua bota Sinclair. Com sede em Nova York, a marca de roupas vegan, Vaute Couture, tem grandes casacos de lona encerada em suas coleções para homens e mulheres.

4. Tyvek Reciclado

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Carteira de Tyvek da Paperwallet // Reprodução

Você provavelmente está familiarizado com o Tyvek se você já usou um envelope feito a partir deste tecido. Da DuPont, Tyvek é uma marca de fibras de polietileno de alta densidade e é super durável, resistente à água, e leve.

Uma alternativa vegan e eco-friendly ao couro, é provavelmente a última coisa que você pensaria ser capaz de usar para fazer produtos de moda. Mas, na verdade, a respirabilidade e durabilidade são fatores responsáveis por fazer com que o Tyvek seja uma escolha inteligente.

A marca de calçados de Nova Jersey, Unstitched Utilities, recorre ao Tyvek reciclado para fazer calçados, e usa corantes veganfriendly para conseguir uma ampla gama de cores. O Tyvek tem uma aparência enrugada interessante, garantindo um visual casual e sensação de gasto, assim como o jeans lavado e rasgado.

Outra marca aproveitando a versatilidade do Tyvek é a Paperwallet, uma marca de carteiras que colabora com artistas. As carteiras são super finas e disponíveis em cores sólidas, ou em diversas estampas criadas por meio das colaborações.

5. Pinãtex

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Protótipos de Pinãtex // Reprodução

Uma das inovações mais recentes em têxteis que deve começar a aparecer por aí é um tecido não-tecido chamado Piñatex, feito a partir das folhas do abacaxi por uma empresa chamada Ananas Anam. As folhas de abacaxi usadas para criar o Pinãtex são subprodutos da colheita de abacaxi, então não há nenhum gasto adicional necessário (isto é, água, fertilizantes, etc) na obtenção das folhas, que de outra forma seriam descartadas como resíduos.

Apesar de serem uma nova empresa com um monte de trabalho pela frente, a Piñatex já tem sete anos de pesquisa e design sob o seu comando e a empresa está fazendo grandes esforços para construir uma cadeia de fornecimento justa e transparente.

Segundo as informações do site da Piñatex, a empresa visa “introduzir no mercado um novo têxtil sustentável que pode preencher a lacuna entre o couro e têxteis à base de petróleo”. Várias marcas começaram a criar protótipos com Piñatex há cerca de um ano ou mais, e há boatos que esses produtos serão lançados no mercado em breve.

O estúdio londrino de design, Smith Matthias, criou os protótipos da foto acima, que foram exibidos no The Pineapple Show no Royal College of Art.

Com todas essas opções emergentes que oferecem infinitas possibilidades, há realmente qualquer razão para usar peles de animais?

Nota da editora: Como esse texto foi originalmente publicado da Vilda Magazine (e traduzido com autorização para o Modefica), ele não contempla marcas nacionais. Fique de olho para uma próxima publicação sobre o tema.

Por: Stephanie Vilano para Vilda Magazine. Stephanie acredita que esse é um momento excitante para a moda livre de crueldade e vegan e está cada vez mais interessada nas marcas emergindo desse nicho. Acompanhe seu blog para inspiração e moda, aventuras na cozinha vegana e reflexões gerais no My Kind Closet.

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