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5 Maneiras de Fazer Ativismo Ambiental Sem Ser Sem Noção

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Eu lembro de ficar bastante aborrecida, crescendo como uma criança sensível na liberal Eugene, Oregon durante os anos 60, com os desastres ambientais daquele período, como o rio Cyuahoya em Ohio pegando fogo, e o Hudson River registrando 170 vezes mais bactérias que o limite considerado seguro.

Apesar de jovem, eu assistia os noticiários e aprendia sobre esses problemas na escola. Participei do primeiro Dia da Terra, em 22 de abril de 1970, o que aconteceu pouco antes de eu fazer treze anos. Eu fui da escola para a casa aquele dia me reconhecendo como ambientalista e imediatamente anunciei para a minha mãe que nossa casa precisava começar a reciclar ou “nosso planeta iria morrer”.

Mesmo depois que eu entrei na faculdade na Universidade de Oregon, eu me mantive informada e comecei a fazer ativismo contra o uso de herbicidas, pesticidas e energia nuclear. Ironicamente, eu fui atingida por um spray de um caminhão de spray de pesticida para árvores em março de 1978, e alguns meses depois eu fui diagnosticada com melanoma, na nublada e chuvosa Eugene pré-mudanças climáticas.

Desenvolver câncer após exposição ao pesticida pode ter sido uma coincidência, mas considerando minha falta de bronzeado e a informação que eu tinha sobre pesticidas sendo aplicados nos bairros (o que é agora proibido graças ao trabalho de ambientalistas), meus sentidos me dizem que o câncer veio da exposição química.

Conforme meu conhecimento sobre destruição ambiental e sobre o aumento de incidência de câncer cresceram, minha paixão por “salvar o planeta” cresceu. Eu via a saúde do planeta diretamente ligada à minha saúde e à saúde de outros seres humanos.

Embora eu valorize meus anos de ativismo ambiental jovem e fervoroso, que se estende em um ritmo mais lento até hoje, eu também me envergonho de alguns dos pressupostos que eu fiz sobre todos os outros no mundo.

Parte do espírito por trás deste artigo é ampliar a discussão do ambientalismo, reconhecer que essa noção de verdade absoluta dentro do movimento ambiental está dando-lhe uma má reputação, e oferecer soluções para reparar essa reputação. Aqui estão 5 dicas sobre como não ser um ambientalista arrogante.
 

1. Reconheça o seu privilégio

Quando eu era uma jovem ambientalista, eu não entendia por que mais pessoas em minha cidade natal não estavam se juntando a mim em ir de bicicleta para todos os lugares ou passar horas recolhendo assinaturas em petições. Eu não entendia por que mais pessoas não estavam lutando contra a pulverização de pesticidas e usinas nucleares.

Afinal, essas coisas poderiam criar câncer e sofrimento, e destruir a beleza natural que eu amava tanto no Noroeste do Pacífico, bem como em todo o mundo.

O que eu não reconhecia é que o meu privilégio me permitiu gastar tanto tempo e esforço com o ativismo.

Eu nasci em uma família branca, de classe média/classe média alta. Meu pai era professor na Universidade de Oregon. Minha mãe era uma dona de casa que gastou quantidades significativas de tempo fazendo trabalho voluntário para comissões locais de planejamento, bem como a ACLU. Eu tinha minha faculdade paga, trabalho de meio-período e na maior parte eu ia à escola e estudava.

Eu tive o tempo entre aulas e testes para trabalhar em salvar o planeta. Sim, eu reconheço que eu passei minhas férias lendo para minhas classes rigorosas e pesquisando como a energia nuclear era perigosa – e não festejando como muitos outros estudantes universitários. Eu realmente trabalhei duro para tentar fazer alguma coisa por essa bola giratória azul chamada Terra.

No entanto, eu nunca estive em perigo de desabrigo ou pobreza; eu tinha pouca ideia de como eu era muito privilegiada. Eu tinha o luxo econômico do tempo para fazer ativismo ambiental.

Embora meus pais instilaram em mim o sentimento que eu era privilegiada e devia retribuir, não havia nenhuma discussão do nosso privilégio branco. Meus pais me ensinaram a respeitar o Dr. Martin Luther King, e não ser abertamente racista, com certeza. Mas eles não tinham nenhum conceito de seu próprio privilégio branco, e não sabiam como se relacionar com as pessoas falando de supremacia branca na época.

Eles também não tinham conhecimento de traumas geracionais, dependência, depressão e ansiedade, e como esses problemas podem prejudicar a saúde econômica de uma família. Eles eram ignorantes sobre como os sistemas existentes favoreceram seu desenvolvimento sobre o desenvolvimento de outras famílias de menos privilégios – isso ou eles simplesmente não queriam pensar sobre isso.

Ao longo dos anos, quando me mudei para diferentes partes do país e fiquei aberta a novas informações, reconheci o meu privilégio. E eu ajustei meu outlook.

Hoje eu vejo pessoas que são privilegiadas com um novo conjunto de princípios ambientalistas que são muito difíceis de seguir. Por exemplo, o carro híbrido. Comprar um carro híbrido custa mais, embora em cerca de 8 anos a questão do combustível compense. No entanto, muitos americanos não podem pagar os 5-8000 dólares a mais para ter um híbrido. Sugerir que eles devem é ser sem noção.

Da mesma forma, uma quantidade significativa de pessoas que têm baixos rendimentos e/ou vivem em “desertos alimentares” não têm um carro, e acabam comprando seus alimentos na loja mais próxima de onde eles vivem. Muitas vezes, é a loja da esquina ou loja de bebidas alcoólicas, com opções limitadas de comprar. Ficar chocado porque alguém “ainda está comprando comida feita por companhias gigantes corruptas e que exploram seus trabalhadores”, é, novamente, sem noção.

Ter uma perspectiva privilegiada, nos aliena dos outros e não ajuda o planeta, os trabalhadores agrícolas ou qualquer outra pessoa. Em vez disso, reconheça que você tem privilégios e use-os para o bem. O que me leva à minha segunda dica.
 

2. Comece de onde você está.

Se encolher em culpa por ter privilégios não ajuda ninguém, então que tal colocá-los em bom uso. Olha para onde você está, nesse momento, e penso no que você pode fazer.

Parte desse processo é construir uma comunidade e inserir o cuidado com o planeta, de maneira natural, na sua própria comunidade. Você está num bairro onde nem todo mundo tem um carro? Ou, por exemplo, você tem vizinhos com problemas relacionados a idade como problemas de visão e outras questões, e que não podem mais dirigir?

Você diz “Oi!” para os seus vizinhos quando você sai do seu apartamento ou casa? Você alguma vez conversa com eles? Bem, caso negativo, é hora de começar a fazer isso. Algo como “olá, eu estou dirigindo para o mercado para pegar meu saco de arroz integral orgânico, você precisa de algo de lá?”. Você pode ficar surpreso com a relação que pode surgir dessa abertura. Quem sabe, seu vizinho alegremente saltará no carro com você, se dado a possibilidade.

Existe um jardim comunitário no seu bairro? Existe uma associação de bairro que você pode participar? Você pode apresentar uma moção para iniciar um jardim comunitário? Mesmo se você não tem experiência com jardins, você pode ajudar enviando e-mails, conversando com vizinhos sobre o projeto do jardim, e assim por diante. O diálogo sobre orgânico versus não-orgânico pode começar lá.

Não force sua agenda em outras pessoas. Tomemos a questão dos orgânicos, por exemplo. Você pode ser apaixonado sobre como os produtos orgânicos são melhores para os trabalhadores agrícolas, bem como o planeta. Entendo; estou de acordo. Mas não seja fanático.

Seu vizinho pode ter uma árvore de pêra que eles não pulverizar com agrotóxicos este ano, mas talvez ele fez isso no ano passado. E daí? Troque as cenouras orgânicas do seu jardim com as pêras dele. Quando você fizer isso, talvez compartilhe uma dica sobre cuidar do solo perto da árvore de uma forma mais natural.

O mais provável é que o seu vizinho acabe lhe ensinando mais do que você pode ensinar. Não assuma que você sabe mais, porque provavelmente você não sabe – especialmente se você se mudou recentemente para a área. Há mil outros exemplos do princípio de começar de onde você está, e caminhar a partir daí.
 

3. Gaste menos dinheiro

Eu queria ouvir de uma variedade de pessoas sobre este tema, e uma das coisas que eu ouvi de várias pessoas foi que gastar menos dinheiro muitas vezes leva a fazer escolhas mais ecológicas na vida.

Simon, dono de uma loja de livros em Oregon, no início dos anos 60, resumiu dizendo: “Ninguém tem o direito de fazer tudo”. Uma de suas queixas sobre hipocrisia ambiental é que os ambientalistas podem freqüentemente se envolver em uma espécie de cultura conspícua de consumo.

Ele me deu o exemplo disto ao assinalar que o prefeito de sua pequena cidade estava voando para Pequim para uma conferência sobre o clima; voar em jatos é uma enorme fonte de pegada de carbono, então a ironia da viagem do prefeito não escapou de mim. A sugestão de Simon seria de uma conferência estadual, com um possível link de vídeo com Pequim, certamente fazia mais sentido do que o prefeito de sua cidade voar pelo mundo.

Discutimos também a crescente popularidade dos passeios de “ecoturismo”, supostamente “verdes” para a Amazônia ou o Ártico, onde mais uma vez grandes quantidades de viagens a jato estão envolvidas, negando assim grande parte do “valor ecológico” da viagem.

Embora não haja nada horrível sobre visitar um país longe, o ponto que eu estou fazendo é que é insincero se referir à viagem como algo ecológico. Se dedicar duas horas a um jardim comunitário todas as semanas é fazer algo ecológico; que tal nós nos focarmos em fazer coisas como essas?

Isabel, uma agricultora urbana de 21 anos e ativista da Califórnia, ressalta: “A economia dos Estados Unidos é inerentemente destrutiva do ponto de vista ambiental”.

Embora esta afirmação possa ser controversa, ela sugere que passos simples, como usar roupas usadas, reciclar e reutilizar materiais, tanto quanto possível, e crescer o máximo de comida possível, é o mais gentil para o planeta. Isabel acredita no que muitos outros acreditam, que andar de bicicleta em vez de dirigir é uma ótima escolha. No entanto, ela reconhece que nem todos são fisicamente capazes de pedalar, e acredita que o transporte público pode e deve ser disponibilizado a mais pessoas.
 

4. Ser intencional em suas atitudes diárias

Tanto Simon como Isabel e várias outras pessoas concordaram que campanhas de marketing verde são geralmente apenas um truque para vender mais produtos. Ser intencional e ver o quanto você consome já é um bom caminho para ajudar o meio ambiente.

Podemos entender isso melhor ao observar Judy, uma dona de oficina automotiva na Califórnia. Judy, que atualmente mora com seu filho adulto em uma pequena casa, e recebe convidados freqüentes, usa um quarto da quantidade média de água para uma casa em sua área. Isso obviamente não é uma tarefa pequena, pois todos na sua cidade estão se esforçando para conservar água.

Judy toma menos banhos quando ela sente que não precisa deles, ela usa o mesmo macacão durante toda a semana de trabalho, ela desenvolveu um método extremamente eficiente de lavar louça, e tem plantas mais resistentes à seca em seu quintal.

No que diz respeito ao uso da água, Judy é uma cidadã modelo – infelizmente, ela não recebe incentivo fiscal para isso, enquanto as contas de água continuam a subir em sua área, mesmo que o consumo diminui, por causa do drástico aumento na taxa por galão.

Mas, a política opressiva da água pode ser discutida em outro artigo.

Enquanto trabalha, Judy mantém uma bicicleta velha em uma loja parceira. Ela dirige o carro do seu cliente até a loja de pneus parceira, em seguida, ela pula em sua bicicleta e volta para sua oficina. Quando o carro do cliente está pronto, ela pedala de volta à loja de pneu, estaciona a bicicleta, e dirige o carro do cliente para sua loja.

Da mesma forma, Judy tem outra pequena bicicleta dobrável em sua loja, para quando ela precisa levar os carros dos clientes em outras lojas parceiras. Ela dirige o carro do cliente para esses lugares, usa a bicicleta dobrável para voltar para sua loja e, em seguida, usa a bicicleta dobrável para voltar e pegar o carro do cliente.

Ao longo dos anos, a quantidade de carbono que Judy não produz nessas pequenas viagens acrescenta-se, e ajuda. Ela economiza dinheiro, economiza tempo, evitando o tráfego de cross-town, e ela poupa o ar um pouco, também.

Judy não se vê como uma ambientalista; ela se identifica como politicamente conservadora, mas com um profundo respeito pela Terra. Ela enfaticamente declara que, em se tratando de ser mais respeitoso com o meio-ambiente, “todo mundo pode ser”.

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5. Una forças com outros grupos.

Em conclusão, talvez o movimento ambiental precise parar de se separar como um movimento, e naturalmente se integrar às comunidades locais, fazendo o que puder, quando puder, de uma forma natural.

Nosso ambiente é apenas isso: nosso meio ambiente.

Ao longo dos anos, conheci milhares de pessoas que, embora não se vejam como “ambientalistas”, se preocupam profundamente com o planeta.

Quando sugeridas maneiras naturais, locais e sensatas de cuidar da Terra, 99% das pessoas que conheci vão escolher essas sugestões amigas da Terra. Trabalhando localmente, em conjunto com grupos comunitários existentes, esperamos manter nosso planeta, e seus habitantes, vivos e saudáveis para sempre.

Esse artigo foi escrito por Amy Ballard Rich e publicado originalmente no Everyday Feminism. Traduzido com autorização para o Modefica.

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