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Por Meio do Design, Catarina Mina Fortalece Rede de Artesãos no Ceará

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“Backstage O Backstage é o podcast do Modefica para falar sobre moda a partir de diversos pontos de vista e para muito além do que vemos nas passarelas, nas revistas, no Instagram e nas manchetes. Sempre com convidadxs especiais contando sua trajetória, e junto com nossa editora Marina Colerato, o Backstage debate indústria, carreira, questões de gênero e raça, temas quentes e futuro da moda. Ouça no Spotify ou iTunes.
 
Neste episódio do Backstage, te convidamos a conhecer o trabalho de Celina Hissa e sua marca que fortalece o fazer artesanal, a Catarina Mina. Originária de Fortaleza, no Ceará, a marca junta design com práticas artesanais de diversas regiões do estado, impactando no fortalecimento da cultura e também na independência e valorização de 35 artesãs. Nossa conversa dessa vez fala sobre criar modelos mais sustentáveis de produção, explorar novos negócios, usar e abusar da transparência e criar um relacionamento de credibilidade duradoura com funcionários e consumidores.
 

 
Celina sempre trabalhou com design gráfico e por um período de cinco anos conciliou o trabalho em agência com sua marca de bolsas artesanais. O processo para chegar ao que a Catarina Mina é hoje foi longo e cheio de testar possibilidades e aprender a lidar com imprevistos. A conexão feita com as artesãs foi o que a fez decidir criar a marca, primeiramente como um hobby. Por isso, apesar de ter nascido em 2005, a Catarina Mina só ganhou CNPJ em 2010.

O nome veio de uma inspiração da região e suas questões sociais. “Catarina Mina é uma escrava negra do Maranhão, que acabou comprando a alforria e virou uma grande comerciante da região”, explica. Um dos pontos levantados por Celina que refletem na marca é o trabalho com os grupos a longo prazo, ou seja, não só trabalhar uma tipologia, por exemplo, quando ela estiver na moda. Trabalhar deste modo a fez criar vínculos com os grupos. Celina não sabe dizer a data exata, mas entre 2010 a 2015 ela cursou seu mestrado, com foco em coletivos. O estudo a ajudou a entender como funcionava modos coletivos de produção, a horizontalidade em uma produção, os vínculos de amizade.

Tudo isso foi acrescentando à Catarina Mina para que a marca se tornar o que é hoje. Marina pontua como, muitas vezes, estando fora dessa relação, não percebemos como esse vínculo de longo prazo gera uma estabilidade ao artesão, uma troca que passa ser mais do que financeira. “Outros valores fazem parte e geram confiança”, ressalta. Celina explicou como essa horizontalidade está presente na marca, ao invés de pensamentos de escalabilidade, de ser gigante.

 

A transparência

A marca também se destaca pelo projeto Uma Conversa Sincera, no qual são abertos informações de custo da produção, de renda, de divisão do lucro e de quem faz tais peças. Um passo que é um certo tabu para qualquer empresa, ainda mais no mundo da moda. Celina conta que quase desistiu da ideia, que pessoas próximas falaram que concorrentes poderiam ir atrás das artesãs. “O mercado é realmente muito difícil nesse sentido”, reforça. Outras marcas chegaram sim aos seus artesãos, mas eles decidiram ficar com a Catarina Mina. “Eu acredito que se você estabelece uma relação de conversa e de confiança com seu parceiro, tudo isso é mais viável”, explica, “e a gente tem a confiança também que se não formos a melhor opção, ele pode escolher outra melhor.

A decisão de abrir os custos e a produção foi para mostrar tudo o que envolve a produção e a necessidade da valorização do processo artesanal. Foi para que o consumidor andasse junto com a marca, conversasse verdadeiramente com ela. É por isso que o projeto tem tal nome. As mudanças entre as comunidades parceiras podem ser vistas como a continuidade da prática artesanal com os mais jovens, o fortalecimento das mulheres artesãs e da economia local.

Os feedbacks do projeto foram positivos. Celina conta orgulhosa que o projeto começou com sete artesãs e em dois anos quintuplicou, para 35, com renda fixa, mantendo a frequência da produção. A Catarina Mina também trabalha a marca e identidade visual dos projetos que você encontra no site, como o Fia, o projeto Ará e o projeto Olê. A ideia é que esse grupos sejam assistidos pela Catarina e, ao passar dos anos, comecem a entrar em contato com outros compradores. Celina destaca como acontece o passo a passo na conversa.

 

Valorização e auto estima

Marina aponta que a Catarina Mina já recebeu prêmios, apareceu em revistas e levou o trabalho de diferentes artesãs para o mundo. A pergunta é: como as artesãs recebem essas notícias? Celina explica que a valorização do produto e da profissão faz com que outros também os valorizem. “No começo do grupo, ‘eu sou artesã’ não era dito com muita força”, relata. Mas agora, grupos como o da cidade de Itaitinga, por exemplo, são compostos por mulheres de todas as idades e maridos destas mulheres. A valorização financeira, a fotografia do produto, tudo contribui para a auto estima de quem faz o faz.

Catarina Mina é um exemplo de marca que gera um impacto social e ambiental. Através de uma outra lógica, tanto na produção quanto uso da peça, a marca traz essa valorização de olhar para um produto e entender as camadas que está por trás dos fazeres. Celina reforça que trabalhar com pessoas e transparência exige aprender a trabalhar com situações inesperadas e com falhas, entender as realidades diferente das pessoas.

A dica que Celina deixa para quem tem um projeto pra tirar do papel é “entender que nunca vai começar perfeito e os ajustes vão acontecendo no processo. Para começar coisas, a gente tem que ter essa compreensão”.

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