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Entre a Criação e a Costura: Fast Fashion, Produção Em Massa e Trabalho Com Significado

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ILO/Aaron Santos
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É fácil esquecer (especialmente para os milenials entre nós) que a maneira como a qual a maior parte da moda feita, comprada, e vendida hoje é um fenômeno relativamente novo.

Quando a Zara chegou à Nova York no começo dos anos 90, o New York Times usou o termo “fast fashion” para descrever a missão da loja. Desde então “fast fashion” tornou-se sinônimo do conceito de produzir e vender um monte de roupas a preços baixos e que são produzidas rapidamente. É um modelo que se baseia em duas coisas: processos de fabricação em massa e uma discrepância global nos padrões de vida, o que torna possível produzir produtos altamente intensivos em mão-de-obra onde os custos dessa mão-de-obra são baixos.

Uma recente viagem a uma confecção em Mianmar [ou Birmânia, oficialmente República da União de Myanmar, é um país do sul da Ásia continental limitado ao norte e nordeste pela China] permitiu-me rever o que este modelo realmente significa para as pessoas no chão de fábrica. A fábrica que visitei era impecável, segura, o lugar de trabalho não estava superlotado, instalações boas, tudo limpo e a supervisão parecia completamente tranquila. Com a minha experiência em ambientes de confecções, essa situação estava mundos de distância das histórias de horror sobre as cadeias de produção de moda que frequentemente acabam ganhando as manchetes na imprensa. Aspiração talvez, para os padrões da cadeia de suprimentos global.

E ainda assim… conforme nós caminhávamos ao redor do chão de fábrica, muitos do nosso grupo, profissionais de moda de todo o mundo, estavam em conflito. A realidade de trabalhar numa confecção de fabricação em massa é de que cada pessoa naquele chão de fábrica está trabalhando contra o relógio, cabeça para baixo, repetindo a mesma seqüência de costura muitas centenas de vezes por dia. Pausas são permitidas – mas raramente tomadas – quando o trabalho é pago por peça, elas são um luxo pelo qual a maioria não pode pagar. É um trabalho tedioso, e reconhecemos que nos deixaria loucos. Do nosso ponto de vista, era tudo menos aspiracional.

No contexto da vida em Mianmar, é claro que há uma lente diferente sobre isso. O trabalho tedioso se torna aspiracional se a única alternativa a ele é a incapacidade de alimentar sua família e filhos.

No entanto, o que eu trouxe para casa dessa experiência foi a percepção da profundidade do nosso duplo padrão na indústria da moda como um todo. “Trabalho significativo” para aqueles de nós que somos afortunados o suficiente para trabalhar mais acima da cadeia de suprimentos da moda significa algo muito diferente. As empresas de Mianmar, particularmente aquelas com nomes mais estabelecidos, têm expectativas muito diferentes para seus próprios funcionários. Para eles, o trabalho significativo está ligado a uma cultura de trabalho positiva, na qual os funcionários se sentem valorizados, respeitados e como se estivessem caminhando para algum lugar.

Como indústria, podemos e devemos continuar trabalhando por melhores padrões de fábrica, em direção a condições de trabalho suportáveis ​​para todos nas cadeias de abastecimento da indústria. No entanto, acredito que as oportunidades são muito maiores do que isso. O processo de “fazer” a moda pode ser ambicioso, pode ser criativo, e pode ser inspirador. Ir além do status quo para aspirar a um trabalho verdadeiramente significativo na indústria da moda exigirá que sejamos todos mais ousados, mais colaborativos e capazes de trabalhar em prol de um padrão comum para todos. Um padrão que valoriza, igualmente, todas as pessoas que contribuem para a nossa indústria global.

Esse artigo foi escrito por Tamsin Lejeune, publicado originalmente no blog do Ethical Fashion Forum e traduzido com autorização para o Modefica.

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