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A Hora de Quebrar os Paradigmas da Moda é Agora

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“Backstage O Backstage é o podcast do Modefica para falar sobre moda a partir de diversos pontos de vista e para muito além do que vemos nas passarelas, nas revistas, no Instagram e nas manchetes. Sempre com convidadxs especiais contando sua trajetória, e junto com nossa editora Marina Colerato, o Backstage debate indústria, carreira, questões de gênero e raça, temas quentes e futuro da moda. Ouça no Spotify ou iTunes.

 

Como transcender modelos mentais para criar uma moda justa, ética e sustentável? Para quem acompanha o Modefica, Nathalia Anjos é um nome conhecido por aqui. Ela já trouxe a provação de que para uma moda sustentável é preciso transcender o sistema predominante; sistema esse que nos faz pensar e agir, consciente ou inconscientemente, dentro do status quo, tornando incapaz qualquer transformação positiva efetiva. Nathalia também já nos contemplou com sua visão sobre os desfiles de moda. Desde sua graduação e pós-graduação, ela estuda o funcionamento e a função das fashion weeks – e não tem dúvidas que esse modelo está, mais do que nunca, esgotado. É preciso pensar em outras formas de apresentar coleções de moda que rompam com o antigo modelo, tão atrelado à desumanização sistematizada da indústria da moda como um todo.

 

 

No podcast da vez, o papo foi sobre tudo isso e mais um pouco. Nathalia é coordenadora dos cursos de moda do Senac Lapa Faustolo e contou sobre os desafios e as oportunidades do ensino de moda quando falamos de quebrar paradigmas. Como ensinar moda, preparar as pessoas jovens para o mercado de trabalho, atualizar as não tão jovens em busca de especialização, e, ao mesmo tempo, provoca-las a pensar sobre a importância de romper com a mentalidade industrial, de linha de produção, estoques abarrotados, manequins 34 e falso glamour que acompanha a moda há décadas? Se propor a quebrar a cabeça e encontrar caminhos múltiplos para o ensino de moda, segunda ela, é a saída.

Até porque, estudando neurociência agora, Nathalia confirmou, por meio dos estudos da neuroplasticidade, que nosso cérebro não é estático e nós podemos mudar sim hábitos, costumes e crenças. Basta estar disposto. Isso significa que não só é possível mudar o modelo mental da produção e da indústria de moda como um todo – que está, obviamente, relacionado ao sistema econômico dominante -, mas que podemos romper com a imagem atual de como uma pessoa é e de como ela deve se portar para pertencer à moda.

Quando falamos de moda, Nathalia ressalta que moda é uma coisa, vestuário é outra. Moda é esse conjunto de informações estéticas que passam pela roupa, mas não se resumem a ela como: beleza, styling, trilha sonora, cenário, figurino até chegar no comportamento. “Eu sempre gostei de tudo da moda, mas o comportamento sempre me incomodou. Por que as pessoas precisam ser mal educadas? Por que as pessoas precisam gritar? Por que precisa ter umas hierarquias absurdas, por exemplo, do stylist super estrela e o assistente mal remunerado e humilhado?”, ela levanta o questionamento.

Esse comportamento não é da maioria, e não está em todos os lugares, ressalta ela, mas está realmente concentrado no Olimpo Fashion. Ao mesmo tempo, é essa imagem que é levada para o mundo, ou seja, da indústria pra fora. Até nos desenhos e filmes infantis, as vilãs escolhidas trabalham com moda e são caricaturas dos piores personagens do Olimpo Fashion da vida real. A provação que fica é: como superar isso, parar de repertir esses comportamentos e representar uma moda que está cada vez mais insustentável? Aceitar que o mundo mudou – e a moda precisa mudar – é o primeiro passo.

Carol Delgado, no último podcast, já tinha alertado que a reconfiguração do mundo, por conta principalmente da internet, é real e está batendo na porta das velhas estruturas. Ainda sem conseguir corroe-las e destrui-las, mas causando um certo tremor e temor por quem sempre esteve muito confortável comandando, ao seu modo, esse debate.

A aceitação, porém, é um pouco mais difícil do que parece. No podcast, Nathalia trouxe um pouco dos porquês aceitar e defender a necessidade de mudança às vezes é tão difícil, não só pelo excesso de ego, que existe pra dar e vender dentro da indústria da moda, mas por medo e insegurança de abrir mão de um lugar que já é muito bem conhecido para se arricar no desconhecido. Assumir a vulnerabilidade nunca foi algo permitido – não só na moda, mas também no mundo -, ao mesmo tempo que nunca foi tão necessário. Além disso, é na vulnerabilidade que podemos ser mais criativos e inovadores como explica Brené Brown no Ted abaixo.

 

 

Na terceira parte, Nathalia trouxe algumas ideias de como podemos transcender as formas nocivas atuais e deu bons exemplos de como as pessoas da moda podem começar a praticar essa mudança mental que vai se materializar na forma como criamos, comunicamos, vendemos, usamos e nos relacionamos com a moda e com as pessoas. Dá o play e depois compartilha nos comentários quais caminhos possíveis para novas modas e novos mundos.

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