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Alerta Greenwashing: Pesquisa Revela Prática Entre Empresas Brasileiras

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  • Juliana Aguilera
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O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou, no último dia 18, uma pesquisa inédita sobre a prática de empresas de convencer compradores com falsas chamadas de comprometimento socioambiental.

A pesquisa, feita de novembro de 2018 a junho de 2019, avaliou 509 produtos dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Além da análise, a ONG, que atua há 32 anos por relações de consumo mais justas, trouxe dicas de como identificar essas falsas alegações sustentáveis e mecanismos para cobrar empresas para mudanças de rótulos e ações concretas.

O termo greenwashing – “lavagem verde”, em tradução literal – refere-se a promoção de produtos como se estes fossem sustentáveis. Com chamadas vagas, falsas ou sem embasamento, a lavagem verde abre vantagens mercadológicas ao atrair consumidores que buscam escolher produtos mais amigos do meio ambiente e dos animais.


Metodologia e classificações

O estudo levou em consideração o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078, de 1990); a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.035, de 2010); a Norma ABNT ISO 14.021/2017; o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e os “sete pecados do greenwashing”, definidos pela organização internacional TerraChoice.

Foram analisados 509 produtos, sendo eles de higiene e cosméticos (341), limpeza (80) e utilidades domésticas (79), encontrados em cinco das principais redes de supermercado do Brasil.
Foram coletadas as seguintes informações: nome do produto, fabricante, número de série, número de lote, declaração apresentada e selo no produto. De todos os produtos analisados, 47,7% deles – ou 243 produtos – apresentaram indícios de greenwashing.


+ Assista: O que é greenwashing e como não cair nele. 

Foram 7 critérios escolhidos para orientar as análises e identificados da seguinte forma:

1. Sem provas: Quando o produto se diz ambientalmente correto, mas não tem uma base de dado para sustentar sua fala. Acontece com cosméticos que se dizem cruelty-free, mas não possuem nem certificado, nem explicam os ingredientes na embalagem.

2. Troca oculta: Isso acontece em produtos que enfatizam uma questão ambiental, mas ocultam outras mais graves. Por exemplo, copos descartáveis que incentivam o uso de plástico alegando que economizam água, pois não há a necessidade de lavar o produto, mas ignoram o grande problema ambiental que enfrentamos por causa do mesmo.

3. Vagueza e imprecisão: Podem ser encontradas em produtos cujas embalagens usam expressões mal definidas, como “amigo do meio ambiente” ou “sustentável”, sem fornecer detalhes ou explicação de atitudes ambientais concretas referentes ao produto.

4. Irrelevância: Pode até trazer um apelo verdadeiro, mas não é relevante para consumidor como uma vantagem ambiental. O mais comum encontrado nesta categoria é o “não contém CFC”. A substância é proibida por lei desde 1999, o que torna essa “sustentabilidade” do produto uma obrigação e não o diferencia dos demais.

5. Menor de dois males: O apelo ambiental pode ser verdadeiro, mas distrai o consumidor de problemas ambientais maiores como, por exemplo, produtos que alegam ser sustentáveis por terem 50% menos plástico em sua composição. Mas os outros 50% ainda o são e continuarão trazendo problemas ambientais, sendo descartados da mesma forma que produtos compostos 100% de plástico.

6. Lorota: Quando as embalagens apresentam declarações falsas como, por exemplo, possuir descarte seletivo, mas a empresa não possui controle sobre o mesmo.

7. Falsos rótulos: Esse tipo de estratégia consiste na embalagem possuir imagens que se assemelham a selos – como uma lâmpada afirmando economia de energia – e dão a falsa impressão que são certificações de terceiros, quando, na verdade, são apenas ícones criados pela própria marca sem nenhuma relação com entidades certificadoras.

Entre os sete problemas, o mais identificado foi o “sem provas”, encontrado em 168 produtos. Em segundo lugar, o “Irrelevância”, presente em 129 produtos, e a terceira “Vagueza e Imprecisão”, em 65 produtos. O Idec conferiu a veracidade e pertinência das informações e informou cada empresa responsável, pedindo documentos que comprovassem as afirmações encontradas nos rótulos ou sugerindo a adequação dos mesmos. Centenas de empresas foram notificadas, entre elas Dove, Granado, Nivea, Ypê e Raid, que decidiram não acatar as recomendações do Idec, não retornaram os questionamentos ou não forneceram todos os esclarecimentos/documentos necessários. Apenas 22 empresas responderam que irão adequar seus rótulos.


Como não cair nessa?

Entre as dicas elencadas pelo Idec, está aprender a reconhecer selos e certificados. Esses rótulos ambientais têm duas finalidades: salientar a importância dos aspectos ambientais de um produto ou serviço e guiar as escolhas dos consumidores e a mudanças de comportamento de marcas. Hoje, existem cerca de 400 selos com apelo sustentável – algumas já conhecidas, como o Selo FSC 100%, de matéria-prima proveniente de florestas bem-geridas e o selo Leaping Bunny, da organização Cruelty Free Internacional, que garante que nenhum teste em animal foi feito para desenvolver o produto.

Outra dica é ficar atenta a empresas que fazem um chamadas tipo call to action nas embalagens, como “economize água” ou “recicle essa embalagem”. Verifique se elas condizem com as mensagens que repassam em seus produtos e promovem práticas socioambientais em suas políticas. Se houver carência de ações ambientais, cobre por explicações e mudanças. Preste atenção também nas declarações como produto vegano, biodegradável e economia de água. Se não houverem provas concretas, ligue para o Serviço de Atendimento da Empresa (SAC) e solicite informações. Por fim, fique de olho em organizações da sociedade civil, como o Idec, que cobram transparência e ações de responsabilidade socioambiental das empresas.

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