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Trama Afetiva Convoca Criadores Que Apostam na Valorização do Coletivo

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  • Juliana Aguilera
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Uma experiência colaborativa de aprendizagem em upcycling, com foco em design, moda e empreendedorismo. Essa é a proposta do Trama Afetiva, projeto que, desde 2016, reúne artistas para repensar produção, consumo, geração de valor e responsabilidade social por meio da ressignificação de processos e produtos. A terceira edição já foi anunciada e está com inscrições abertas até dia 10 de agosto. Com patrocínio da Fundação Hermann Hering e apoio Epson, o projeto tem direção criativa e de conteúdo de Jackson Araújo e Luca Predabon e tutoria criativa dos designers Patrícia Centurion, Itiana Pasetti, Eduardo Borém e Jorge Feitosa.

Dos dias 20 a 23 de agosto, 10 estudantes e profissionais interessados em upcycling participarão de uma imersão no CCSP (Centro Cultural São Paulo). As atividades promovidas englobam exposição, masterclass, painéis, shows e workshop que dialogam com o entendimento de regeneração do planeta por meio da valorização das pessoas e do coletivo. No último dia de imersão acontecerá o encerramento com uma mostra dos trabalhos produzidos nas oficinas, das 20h às 22h. Neste formato, o Trama Afetiva ganha se transforma num minifestival multicultural para potencializar a troca de aprendizados e relacionamento entre profissionais diversos.

A premissa para quem se interessar em participar do projeto é ter interesse pela pauta do upcycling, não precisando, necessariamente, saber confeccionar roupas. Na 3ª edição, a masterclass será de Carla Tennenbaum, da Ideia Circular, representante oficial da metodologia Craddle 2 Craddle, no Brasil. “Não estamos buscando somente pessoas que fazem roupas, pois entendemos que nossa entrega final contempla não somente uma linha de produtos, mas também a construção de novos discursos colaborativos e, sobretudo, a virulência entre corpos que se contaminam exatamente pelas diferenças”, explica Jackson Araújo, diretor criativo e de conteúdo. Os nomes de demais palestrantes ainda serão divulgados.

Por meio da ressignificação e troca de pensamento, o Trama Afetiva busca quebrar muitos paradigmas dentro da indústria da moda sendo, um deles, a discussão sobre sustentabilidade, repensada além do lixo, do resíduo têxtil. “A moda não é mais sobre roupas, mas sobre impacto socioambiental. O principal desafio será sempre a posição de questionamento sobre horizontalidade, lugar de fala e espaço para tomada de decisão por pessoas que sempre foram, e ainda são, excluídas pelo velho sistema produtivo”, explica Jackson, “o Trama Afetiva busca ser o canal de conexão para avanços qualitativos e quantitativos”.

O projeto é uma aposta no poder do coletivo

A Oficina Trama, um dos momentos mais fortes de conexão entre os participantes, aborda ancestralidade, cidadania, colaboração, respeito às potencialidades individuais, territorialidades, arte x artesanato, escassez de matéria-prima, inclusão, indústria 4.0 e prototipagem. Após três anos de aprendizagem, o Trama Afetiva vê como principal impacto a mudança do olhar e do entendimento de que é necessário transformar privilégios em responsabilidade. “Só assim poderemos materializar impactos financeiros e de inovação concretos para a indústria. Não é sobre manufatura somente, mas sobre mudança de ponto de vista. Pensar mais no coletivo e menos no bloco do eu sozinho”, reforça Jackson.

Pati Sayuri, participante da 1ª edição do projeto, viu a força do coletivo criar mudanças em sua vida pessoal e profissional. Vinda de uma carreira em artes bastante solitária, ela se inscreveu para o projeto com curiosidade em entender como seria o desenvolvimento de um time tão diverso e multidisciplinar – composto, na época, por designers, arquitetas, estilistas. Ela define como “transformador” o aprendizado que teve com pessoas de áreas tão diferentes, hiperconectadas pelo fio da afetividade e do fazer pelas mãos: “O Trama Afetiva reverberou em mim o desejo da troca constante, de abrir os processos, do diálogo. Desde então, me coloco em situações de compartilhamento, parcerias, querendo sempre estar junto. Isso enriqueceu muito o meu trabalho e equilibrou bastante com o processo prático”.

A artista visual nipo-brasileira trabalha, desde 2013, com o Shibori, técnica de tingimento artesanal japonesa. O projeto a ajudou a olhar para sua própria origem, seus antepassados, sua dinâmica com os materiais. “Reforçou muito a importância de se falar abertamente sobre o afeto no fazer”, explicou ela, que garante que o afeto já aparecia em seu trabalho, porém ela entendeu, depois da sua participação, que ele pode estar refletido em tudo que a cerca.

Não é sobre manufatura somente, mas sobre mudança de ponto de vista. Pensar mais no coletivo e menos no bloco do eu sozinho.

Jackson Araújo

Na 2ª edição do Trama Afetiva, Zina Leal sentiu o impacto de estar em um grupo que trabalha e busca soluções para contribuir com um mundo melhor. Essa experiência com o Trama Afetiva também criou mudança em seu trabalho com a moda e na vida, dando uma dose de esperança e reforçando sua vontade de trabalhar, cada vez mais, com a moda sustentável. Na última edição, ela teve a oportunidade de fazer parte da Coleção Nós. “Foi como se eu tivesse a oportunidade de, por meio da experimentação, compreender algumas teorias e desejos que já faziam parte do meu repertório, mas que precisavam de ‘território’ para materializar”, explica.

Ao experimentar estas novas formas de fazer, Zina pode encontrar alguns saberes. Hoje, ela tem uma produção de objetos pequena, pois está em uma fase de questionamentos sobre o que precisa, de fato, ser produzido e consumido: “Eu tenho a possibilidade de ser multiplicadora de ideias. No Trama Afetiva, eu aprendia, de forma lúdica, a ‘tramar com mais afeto e leveza’ coisas que, às vezes, parecem difíceis e duras de se fazer”. A artista, que também leciona sobre upcycling e reciclagem, se vê ressignificando seu cotidiano diariamente a partir das experiências que viveu no Trama.

Gostou? Saiba mais em http://fundacaohermannhering.org.br/projeto/trama-afetiva.

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