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livro interseccionalidade

Interseccionalidade Como Teoria Social Crítica

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3 min. tempo de leitura

Este livro introduz e elabora conceitos centrais e princípios orientadores do que será necessário para desenvolver a interseccionalidade como teoria social crítica. Não detalho o que a interseccionalidade como teoria social crítica realmente é. Em vez disso, construo um conjunto de ferramentas conceituais para podermos levar a interseccionalidade ao processo de tornar-se uma teoria social crítica. Em outras palavras, esta obra provê uma base provisória para pensar a interseccionalidade como uma teoria social crítica em construção.

Reconheço que o livro, como a interseccionalidade, cobre uma gama ampla de materiais. Para que seja possível visualizar o desenrolar dos meus principais argumentos, incluí no apêndice um sumário detalhado que busca demonstrar toda a arquitetura da obra. Inseri esse esquema como uma ferramenta de navegação para mostrar como o argumento é sequenciado e para ajudar você, leitor ou leitora, a ver o escopo do argumento geral. Por favor, retorne a esse esquema durante a leitura; com ele será possível localizar mais facilmente em que parte do texto sua leitura se encontra.

Como poderá ver no escopo do esquema no apêndice, talvez você já tenha familiaridade com alguns dos assuntos e não com outros. Por exemplo, talvez tenha familiaridade com a teoria feminista, mas saiba pouco sobre o pragmatismo estadunidense; talvez tenha domínio sólido acerca de epistemologia, mas não de feminismo negro; talvez esteja ciente da importância do pensamento crítico para a psicologia cognitiva e a educação, mas não conheça bem a história da eugenia.

Muitas pessoas acham a teoria social maçante e acusam-na de ser abstrata demais e irrelevante. Enquanto quem produz teoria considera a linguagem especializada importante para explicar ideias complexas, pessoas leigas talvez a encarem como excludente. A questão é que tanto as pessoas que produzem teoria quanto as leigas possuem linguagem especializada que reflete experiências complexas e pontos de vista diversos. Reconhecendo esse dilema, tive de encontrar uma forma de escrever para um público leitor amplo. Minha solução é lhe ensinar o que você precisa saber para que possa compreender as abstrações dos argumentos contidos neste livro. Essa decisão tornou a escrita da obra extremamente difícil, porém necessária.

Ao ler o livro, tenha em mente que Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica, assim como a interseccionalidade propriamente dita, trata de uma ampla gama de tópicos, temas, teorias e argumentos que, de forma geral, não costumam aparecer juntos. Este livro requer uma leitura diferenciada, requer que você se imagine como parte de uma comunidade interpretativa de pessoas cujas áreas de especialidade são bastante diferentes das suas.

Escrevi capítulos e, em alguns casos, seções de capítulo de modo que possam ser lidos como ensaios independentes acessíveis a pessoas de origens e contextos variados. Ao longo da leitura, tenha em mente que esta obra foi escrita no espaço interseccional que coloca ideias diferentes para dialogar umas com as outras. Meu objetivo é poder falar com um público leitor heterogêneo sem comprometer a integridade dos argumentos aqui apresentados. Trabalhar com a interseccionalidade é assim.

Em termos organizacionais, Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica está dividido em quatro partes, que proveem ferramentas conceituais para a construção teórica da interseccionalidade. A parte I identifica o vocabulário básico para trazer uma gama de agentes sociais para a mesa da construção teórica. Uma noção do escopo do que se considera interseccionalidade entre as pessoas que a praticam (capítulo 1) e do que se considera teoria social crítica entre as pessoas que formulam teoria social (capítulo 2) apresenta cada uma dessas comunidades interpretativas – com frequência, são vistas como discrepantes – para a outra.

A parte II concentra-se na resistência intelectual, uma dimensão importante do mandato crítico da interseccionalidade. Esta tem vínculo com diversos conhecimentos resistentes, entre os quais muitos servem como fonte de suas ideias e práticas (capítulo 3), e também deve estar atenta a como o poder epistêmico afeta os limites e a possibilidade de sua própria resistência intelectual (capítulo 4). A parte III analisa a ação social como modo de conhecimento como um aspecto importante da teorização da interseccionalidade. Maneiras de conceituar experiência e ação social no contexto da comunidade (capítulo 5) e a forma como a ação social pode influenciar os limites definidores da interseccionalidade (capítulo 6) constituem dimensões importantes da teorização interseccional.

A parte IV aborda dois construtos centrais subestimados na interseccionalidade, argumentando que, como teoria social crítica, ela deve analisar autorreflexivamente cada um deles. A relacionalidade é um tema central dentro da interseccionalidade, que demanda análise crítica (capítulo 7), e o compromisso da interseccionalidade com a justiça social não pode mais ser presumido – precisa ser construído (capítulo 8).

Não se iluda: a escrita deste livro foi muito desafiadora, e a leitura, provavelmente, também o será. Diante de tudo que está em jogo, principalmente durante nosso atual período de mudança, não vi melhor forma de escrevê-lo. Fiz o melhor que pude para tornar acessíveis os argumentos complexos nele contidos. Será preciso fazer o melhor possível para interpretar o que os argumentos aqui apresentados significam para você.

Trecho do livro "Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica" por Patricia Hill Collins. Copyright © 2022 por Patricia Hill Collins e Editora Boitempo. Trecho publicado com permissão da Editora Boitempo. 
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