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Queremos: Um Feminismo Para os 99%

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  • Marina Colerato
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No fim de 2016, a Greve Internacional das Mulheres se estabeleceu oficialmente como plataforma para reinvidiar um feminismo para os 99% da população feminina: mulheres trabalhadoras dentro e fora de casa, mulheres não brancas, mulheres com deficiência, mulheres imigrantes, muçulmanas, lésbicas, cis, queer e trans.

Três das organizadoras da greve, Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser, lançaram no 8 de Março o livro-manifesto que, no Brasil, chegou por meio da editora Boitempo, e desafia a narrativa do feminismo liberal ao invocar um  movimento feminista anticapitalista, antirracista, antiLGBTfóbico e indissociável da perspectiva ecológica do bem viver. Ao invés de bravar por mais mulheres nos cargos de CEO das corporações, “Feminismo para os 99% invoca um feminismo que olha para a maioria.


No prefácio à edição brasileira, Talíria Perone escreve: “este manifesto é carregado de necessárias provocações. Vivemos nos últimos anos uma nova primavera feminista, que exige que a gente se debruce sobre os rumos da nossa luta. Com quais mulheres os feminismos diversos dialogam? Que mulheres estão convencidas sobre a importância do feminismo? De que mulheres tratam os feminismos? Quais mulheres seguem ainda guetificadas e marginalizadas nos feminismos? O feminismo das 99% não prescinde desses questionamentos, justamente porque reconhece sua urgência. E nosso feminismo só será mesmo urgente se for por inteiro palpável e real para a maioria das mulheres brasileiras e do mundo. Se for popular e verdadeiramente emancipador. Esse precisa ser um compromisso teórico, político e prático do feminismo para as 99%. Esse manifesto é um chamado para um feminismo vivo e pela vida, pela dignidade, pela felicidade da maioria das mulheres”.

Dos anos 70 para cá

Seguindo o exemplo das mulheres islandesas em 1975, as mulheres polonesas fizeram uma greve de um dia para deter os planos de criminalização do aborto em 3 de outubro de 2016. Essa legislação planejada foi imediatamente retirada pelo governo. Questões semelhantes levaram as mulheres coreanas a protestar várias vezes no mesmo mês contra a introdução de penalidades mais altas para os médicos que realizam abortos. Em 19 de outubro de 2016, as mulheres argentinas reagiram com greves e comícios a um femicídio desumano e à repressão brutal da polícia no Encontro Nacional das Mulheres. Mais protestos aconteceram ao redor do mundo e foi nesse momento que a Greve Internacional das Mulheres se estabeleceu como uma plataforma de articulação global para a luta feminista.

“Nos últimos anos, o “feminismo enxuto” foi elevado como meta para todas as mulheres. […] Vemos o 8 de março como um esforço para se reconectar com as políticas militantes e radicais do feminismo socialista e feminismo negro das décadas de 1960 e 1970, que localizaram a opressão das mulheres no capitalismo e no livre mercado.

Durante anos, o Dia Internacional da Mulher passou despercebido ou foi despolitizado. A maioria das pessoas já não sabe que suas raízes estão na luta das trabalhadoras têxteis nos Estados Unidos – ou que uma mobilização de mulheres na Rússia para se opor à Primeira Guerra Mundial em 1917 foi a faísca para uma revolta que levou à derrubada do czar. e desencadeou a Revolução Russa”, contou uma dar organizadoras do movimento Keeanga-Yamahtta Taylor ao Socialist Worker.

Para deixar mais claro, em entrevista ao Broadly sobre o livro, a co-autora Tithi Bhattacharya destacou: “queremos empoderamento para as mulheres, mas não o tipo de empoderamento em que algumas mulheres se tornam CEOs e depois se tornam responsáveis pela violência para com a grande maioria das mulheres”.

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