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Menos Posse, Mais Acesso: A Economia Colaborativa Já Está Em Ação Na Moda

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  • Ana Carolina Incerti
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4 min. tempo de leitura

Lembra daquela época em que você tinha que comprar o DVD do seu filme preferido? Ou de quando você tinha que comprar um CD só pra ter acesso a uma ou duas músicas que gostava? Em tempos de Netflix e Spotify, essa realidade parece absurda: por que comprar, se podemos compartilhar?

Essa é a lógica da Economia Colaborativa, movimento que já foi descrito como a principal tendência econômica do século XXI. Segundo Jeremy Rifkins, um dos principais estudiosos do movimento, vivemos em um momento de transição da “Era da Posse” para a “Era do Acesso”. Pense bem: você não precisa do CD ou do DVD, e sim da experiência que a música ou o filme podem te proporcionar.

Aliás, experiência é uma palavra chave para compreender a Economia Colaborativa. Se há algumas décadas o ato da compra era justificado não só pela sua utilidade, mas também pelo status social que carregava, hoje, o consumo está caminhando para o lado mais prático, focado nas funções que determinado produto pode realizar. Ou seja, se um carro representar apenas um meio de transporte (e não mais um símbolo social de poder), é possível que ele seja alugado ou emprestado para suprir a necessidade de locomoção pela cidade.

E tudo isso ainda é potencializado pelo poder da Internet e das tecnologias de comunicação. As redes sociais e aplicativos têm um papel importantíssimo na disseminação desse novo modelo, já que aproximam pessoas (muitas vezes desconhecidas) que compartilham das mesmas necessidades e interesses. Plataformas como Airbnb, Fleety, e Bliive mostram que é possível usufruir de um apartamento, de um carro, e até do seu tempo (!!!) de forma colaborativa.

A indústria da moda não podia ficar de fora desse movimento e já conta com iniciativas que vão muito além do clássico aluguel de vestidos de festa. O site norte-americano Bag, Borrow or Steal é uma plataforma para o aluguel de bolsas de luxo, onde os clientes podem alugar os acessórios por um mês (ou mais, se desejarem renovar o aluguel), por uma média de duzentos dólares. Depois de devolvidas, as bolsas passam por um processo de limpeza profissional e se tornam novamente disponíveis para o próximo “dono” temporário.

A versão brasileira para esse serviço fica por conta do site BoBags, que oferece períodos de aluguel que variam entre final de semana, uma semana e um mês. Assim como a Lena, biblioteca de roupas, esses sites permitem que as fashionistas saciem o seu apetite por novidades, sem comprometer tanto a conta bancária e o meio ambiente.

Ainda na moda, o movimento Roupa Livre se destaca por realizar um trabalho que tem o objetivo de conectar pessoas e iniciativas que apoiam o consumo colaborativo. Partindo do princípio de que nós não precisamos de roupas novas, e sim de um novo olhar, o movimento promove bate-papos, workshops, oficinas e bazares incentivando uma nova maneira de se relacionar com o consumo de moda. No site, você ainda encontra o “Mapa da Mina”, com dicas de costureiras, bazares de trocas, pontos de doação, cursos de costura e outros lugares sugeridos pelas próprias editoras e outros usuários – tudo colaborativo.

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E não é só na hora do consumo que a colaboração se faz presente. A marca americana Betabrand se define como uma comunidade online de roupas e prova que o processo produtivo também pode ser compartilhado. A empresa é conhecida pela venda online de peças inovadoras e extremamente funcionais, como roupas com sinalização noturna para ciclistas e calças “de trabalho” feitas com materiais super confortáveis, como os de roupas para yoga. Esses produtos diferenciados são projetados por designers do mundo inteiro, que submetem suas ideias através do site. A produção desses projetos é subsidiada via financiamento coletivo, o que garante que a materialização das peças dependa de uma verdadeira demanda do consumidor. Ou seja, a produção dessas peças só acontece se o público – literalmente – comprar essa ideia.

De um lado, os entusiastas do movimento (incluindo Rifkins) defendem que a Economia Colaborativa está redefinindo as nossas relações econômicas, políticas e sociais – e já chegaram a afirmar que a desconstrução do capitalismo já começou. Por outro lado, ainda não se pode ter certeza de que o novo modelo não passa de mais um movimento consumista, dessa vez repaginado. O que não se pode negar é que essas e tantas outras iniciativas (lembra da Honest By, que falamos aqui?) mostram que novas formas de produzir e consumir moda estão surgindo no mundo, e prometem pequenas (ou, por que não, grandes) revoluções na nossa sociedade. Por aqui, ficamos de olho e aguardamos ansiosamente pelos próximos passos.

Interessada em saber mais sobre a economia e o consumo colaborativo? O livro “O Que É Meu, É Seu – Como O Consumo Colaborativo Vai Mudar Nosso Mundo” é um excelente começo.

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