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Para aumentar entendimento sobre o valor das roupas, estudo sugere oficinas imersivas e espaços de aprendizagem coletiva.

Estudo Inglês Sugere Formas de Ensinar as Pessoas Sobre o Valor das Roupas

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  • Marina Colerato
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Francois Le Nguyen

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Processos imersivos e coletivos como oficinas de costura, confecção e reparo de roupas incentiva pensamento mais crítico sobre sustentabilidade e consumo.

Buscando entender como aumentar a percepção das pessoas sobre o valor das roupas, um estudo inglês realizado pelo grupo de trabalho do Arts and Humanities Research Council, financiado pelo projeto S4S: Designing a Sensibility for Sustainable Clothing e intitulado The affective economy and fast fashion: Materiality, embodied learning and developing a sensibility for sustainable clothing (A economia afetiva e o fast fashion: materialidade, aprendizagem corporificada e desenvolvimento da sensibilidade para o vestuário sustentável, em tradução livre) concluiu que práticas de consumo mais sustentáveis na moda exigem uma imersão corporifica nos processos de costura, conserto e confecção das roupas por parte dos grupos que se busca mobilizar.

A pesquisa coordenada por Joanie Willett, da Universidade de Exeter, afirmou: “a imersão na materialidade do vestuário mobilizou processos afetivos, possibilitando encontros afetivos potencialmente transformadores”.

Gerar mudanças comportamentais de longo prazo é um desafio conhecido para quem atua com o tema. Existe uma “lacuna de valor-ação” que faz com que as pessoas no geral entendam e internalizem os problemas, mas não necessariamente ajam sobre eles. Por exemplo, ainda que elas tenham informações suficientes sobre o impacto do consumo de carne e de roupas baratas no meio ambiente e na sociedade, não necessariamente diminuirão o consumo desses produtos. 

Portanto, os pesquisadores buscaram entender se era possível mobilizar o afeto para gerar uma mudança duradoura e significativa no comportamento de consumo de vestuário e, caso positivo, o que deveria ser feito para conseguir tal transformação, preenchendo assim a “lacuna de valor-ação”. A pesquisa foi dividida em duas partes, sendo a primeira um levantamento bibliográfico de nove meses para entender o que já havia de informação disponível na literatura sobre o tema. Depois, foram realizadas oficinas seguindo os princípios da pesquisa corporificada, “que convida os participantes a utilizarem uma atividade física e tátil para explorar e gerar conhecimentos”. 

Falar e fazer para aumentar percepção do valor das roupas

As oficinas aconteceram em Cornualha, no sudeste do Reino Unido e em West Midlands, na região central do país. West Midlands especificamente tem uma história econômica recente onde muitos dos participantes já haviam trabalhado na indústria de confecção, o que pode ter contribuído para os resultados alcançados. “O que este estudo demonstra é que o ambiente de grupo não é apenas um espaço para ensinar um conjunto prescrito de valores e comportamentos normativos aprovados. Nossas oficinas imergiram os participantes na materialidade do vestuário, proporcionando espaço para que eles criassem seus próprios saberes, economias afetivas, ressonâncias e teias de significados culturais a partir das conversas e práticas que encontraram enquanto participavam do projeto”, escreveram os pesquisadores. 

Nesse sentido, as oficinas buscaram oferecer espaços de conversa com o objetivo de possibilitar maior conhecimento sobre o repertório de vida dos participantes. “O envolvimento em oficinas permitiu que os participantes refletissem mais profundamente sobre as implicações ambientais e éticas do vestuário e permitiu que a equipe de pesquisa gerasse uma compreensão profunda de como os indivíduos construíam seus mundos de vida fenomenológicos em torno do vestuário”, explicaram os pesquisadores.

“O envolvimento em oficinas permitiu que os participantes refletissem mais profundamente sobre as implicações ambientais e éticas do vestuário” 

Joanie Willett et al

Em segundo lugar, as tarefas em si foram concebidas para permitir que os participantes aprendessem: a) sobre as viagens que as roupas e os materiais que as compõem fazem (por exemplo, fazer fios ou tecidos a partir de matérias-primas); b) sobre os tipos de questões éticas que são levantadas pelo fast fashion (por exemplo, os custos humanos e ambientais do consumo em massa de roupas baratas); e c) as habilidades de aprender a fazer, consertar e modificar roupas por conta própria.

Iniciativas buscando mobilizar o afeto para sustentabilidade na moda já notaram a importância das pessoas entenderem sobre os processos produtivos de forma bastante prática para que elas pudessem entender também o real valor das roupas. Nesse sentido, esse estudo pode ser considerado uma confirmação de como grupos específicos podem ser engajados na questão de sustentabilidade das roupas.

“Neste estudo, ilustramos como as relações que as pessoas têm com as roupas podem ser moldadas por oficinas que as envolvem na confecção, conserto e modificação de roupas. Esse aprendizado experiencial pode incentivar a adoção de escolhas de roupas mais sustentáveis, como reduzir o consumo de roupas novas e prolongar a vida útil das peças de vestuário já possuídas”, explicaram os pesquisadores.  

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