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Planos de Governo: Ler as Propostas do Seu Candidato Pode Fazer Você Mudar Seu Voto

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  • Juliana Lima
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O #ModeficaNaPolítica surgiu para falar sobre política de um jeito simples, direto e olhando para  um escopo de temas não muito falados por ai, como sustentabilidade em todas as suas esferas. Também buscamos mostrar a importância de votar com mais consciência política nessa que já é uma das eleições mais importantes e imprevisíveis da nossa história por diversos motivos (bons e ruins). A nossa missão aqui é te ajudar a entender, a discutir e a literalmente “tomar partido” nesse caminho de se apropriar daquilo que é nosso por direito e é capaz de fazer a mudança esperada acontecer de verdade, ou seja, o voto.

Falamos sobre os cargos que serão eleitos e reeleitos no dia 7 de outubro e também sobre uma novidade que está dando o que falar: os mandatos coletivos. Também rolou um apunhado de ferramentas digitais que existem para nos aproximar da política e agora chegou a hora de conversarmos um pouco sobre a importância de lermos os planos de governo de quem estamos pensando em votar. Os planos têm muito a dizer (ou não!) sobre os assuntos que nos levam a escolher alguém para nos representar pelos próximos 4 anos.

Por Que Importa?

O que os candidatos e partidos chamam de plano de governo é um documento que traz (ou, pelo menos, deveria trazer) todos os objetivos e caminhos para o novo mandato que pode se concretizar. No plano de governo, conseguimos ter uma ideia mais clara sobre o posicionamento da pessoa candidata acerca dos temas que nos são caros. Por exemplo, se o plano de governo não mencionar nada sobre desmatamento e mudanças climáticas, é um indicativo forte de que o candidato em questão não está olhando para essas questões e as enxergando como importantes. 

É claro, assim como qualquer pessoa, o que vai fazer a diferença não é necessariamente o que o político escreve ou fala, mas o que ele faz; e fazer acontecer o que está escrito no plano de governo depende não só da vontade do político em questão, mas do apoio que ele ou ela vai encontrar no Congresso e no Senado, de quem vai ser aliado nos Ministérios, dos instáveis cenários nacionais e internacionais, etc. Tem muita coisa em jogo, porém o plano de governo é o primeiro passo para entender no que seu candidato acredita e pelo o que ele e sua equipe vão lutar, o que vão defender e, principalmente, o que vão repudiar. Se mais da metade dos 147,3 milhões de eleitores aptos a votar lessem o plano de governo dos candidatos que ganharão seu voto, com certeza muitos mudariam a escolha ou teriam ainda mais consciência de que estão apoiando a pessoa certa.

Nesse momento de total crise de representação política, o desconhecimento das propostas globais dos candidatos pode levar muita gente a “comprar gato por lebre”. Entretanto, depois de clicar ‘confirma’ na urna eletrônica, é impossível voltar atrás. Por isso, num cenário de nível de desconfiança altíssimo – de acordo com a última pesquisa do IBOPE, responsável por revelar que, em uma pesquisa espontânea, 41% dos entrevistados não mencionou nenhum candidato e 14% declarou votar em branco ou nulo – precisamos entender não só como funciona o sistema político como também a forma que os candidatos pretendem jogar esse jogo.

Muitos dos planos são extensos, com páginas e páginas de promessas e ‘boas’ ideias, mas fique atento: muitos absurdos podem estar escritos, coisas sem nexo, resoluções sem sentido, assim como pontos essenciais para você e para sua comunidade podem ficar esquecidos. Uma das coisas mais importantes de ter em mente ao começar a ler um plano é que essa é a primeira ferramenta entregue pelo candidato para sustentar toda a gestão a qual ele está propondo realizar, norteando as decisões, definindo investimentos, elencando prioridades. Se não fizer sentido no papel dificilmente vai fazer na prática.

Fique de Olho!

O plano de governo é uma obrigação dos candidatos perante a Justiça Eleitoral (lei 9.504/97), mas muitas vezes é entendido como um simples protocolo cumprido por aspirantes à presidência, ao governo e às prefeituras – a exigência não vale para campanhas de senador, deputado e vereador. Porém, como relembra o portal Nexo, o plano de governo já serviu para desestabilizar ou impulsionar muitas campanhas políticas, como a que deu a primeira vitória a Lula (PT) em 2002, quando ele enfatizou e detalhou suas propostas para a economia e para o âmbito social em um ano em que essa entrega do plano ainda não era obrigatória, mas rendeu a ele a conquista da confiança do eleitorado.

Em 2012, Fernando Haddad, também petista, ainda desconhecido de boa parte da população de São Paulo, investiu em um amplo projeto de plano de governo, ilustrado por mapas e gráficos que mostravam o futuro que ele estava propondo através da descentralização da política de urbanização e da sua vontade de levar emprego e moradia para toda a capital paulista. No caso de Celso Russomanno (PRB), no mesmo ano, a situação foi oposta porque o então candidato foi criticado pela falta de propostas e por pontos bem contraditórios no seu plano, como a cobrança de tarifas de ônibus de acordo com a distância percorrida, o que prejudicaria bastante os moradores das periferias e foi uma das críticas que o levou à derrota logo no primeiro turno.

Outro ponto fundamental ao ler um plano de governo é identificar ideias impossíveis de serem realizadas ou promessas que estão fora da alçada do candidato. A lei determina a entrega obrigatória do plano, mas não a possibilidade de execução do que está descrito ali. Dessa forma, o plano em si deve funcionar como instrumento para você, como eleitor, cobrar a realização das promessas e servir de parâmetro para uma possível reeleição. No plano, você vai conseguir saber se o político conhece de verdade as causas as quais se propõe defender, se tem conhecimento dos problemas nas regiões nas quais pretende atuar, se sabe as reais competências de um município ou estado, e se está contemplando serviços relevantes para a população dentro da realidade orçamentária que possui. E, claro, quando você tem um plano em mãos, não vai ficar refém apenas do curto tempo que cada um tem disponível na TV e no rádio para divulgação das propostas.

Planos e Presidenciáveis de 2018

Parece que nessa eleição muitos candidatos se deram conta de que os eleitores estão mais atentos e, por esse motivo, decidiram destrinchar ao máximo seus planos para marcar pontos com a população. Segundo estudo de especialistas da Folha, os planos dos presidenciáveis em 2018 trazem algumas metas pouco realistas ou muito difíceis de alcançar, se considerarmos a fragilidade das finanças públicas nas contas do governo ou a coordenação eficiente entre esferas governamentais para atuar em setores como meio ambiente, energia, privatizações, tributações e educação.

[highlight text=”O plano de governo é o primeiro passo para entender no que seu candidato acredita e pelo o que ele e sua equipe vão lutar, o que vão defender e, principalmente, o que vão repudiar.”]

No site da revista Piauí, a conclusão da análise visual dos planos feitas pelo jornalista José Roberto de Toledo foi enfática: “muito Deus, pouca mulher”. Para ele, diferentemente da eleição de 1989, que também ficou marcada em nossa história, na deste ano a diagramação dos planos é bem acabada, tem fotos e muita cor, mas o conteúdo deixa a desejar. Palavras pouca usadas que mereciam lugar de destaque e temas que poderiam ter sido menos priorizados, mas que ganharam espaço demais. Descobertas interessantes de José Roberto: os candidatos falam muito de si mesmos, de desenvolvimento, da própria política e citam centenas de vezes o termo Brasil; no plano de Bolsonaro, chama a atenção a palavra “mulher”, maioria no eleitorado brasileiro, ter aparecido apenas uma vez enquanto a palavra “Deus” pipocou 82 vezes. 

Já Lula, que por enquanto está com sua candidatura suspensa pelo TSE e deve ser substituído por Fernando Haddad, teve seu documento divulgado em 62 páginas sob o slogan “O Brasil feliz de novo”. O documento foi ancorado no golpe sofrido pelo partido com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, que aprofundou a crise política no país. No plano, existem tópicos sobre restabelecer a democracia, afirmar os direitos dos cidadãos recuperando, por exemplo, seu poder de compra para reativar a economia, melhorar a distribuição de receitas, implantar um novo projeto de desenvolvimento nacional e lutar por uma sociedade ecologicamente sustentável. Além disso, o plano defende a suspensão das privatizações, da redistribuição dos tributos e da revogação das medidas implantadas pelo atual presidente como as mudanças trabalhistas.

No plano de Marina Silva, chamado de “Brasil justo, ético, próspero e sustentável”, ela se coloca como uma saída para quem não acredita mais na política tradicional. A candidata também se mostrou atenta para não cometer erros como aconteceu em eleições passadas: em 2014, pressionada por religiosos, Marina alterou o plano no tópico que era voltado para o apoio da causa homossexual. Neste ano, ela defende o casamento gay como um direito protegido por lei, a autonomia do Banco Central, a venda de estatais para a iniciativa privada, a reforma política e a suspensão do programa de refinanciamento de impostos para empresas. 

Guilherme Boulos, por sua vez, no plano “Vamos sem medo de mudar o Brasil”, documento mais longo apresentado com 228 páginas, quer recuperar a economia através de uma reforma tributária que privilegie os mais pobres e aumente os impostos para ricos, indústrias e setor agropecuário, além de propor o aumento do prazo de pagamento da dívida pública e de se dedicar bastante à defesa das minorias sociais nas ações que pretende realizar.

Para citar um acontecimento recente, o incêndio que destruiu grande parte do Museu Nacional do Rio, e entender a ponte entre planos de governo e a realidade: apenas o plano de Marina e de Lula contemplam a preservação do patrimônio cultural e a política de museus; e 7 dos outros candidatos têm planos para a cultura, mas sem especificar os museus: Alvaro Dias, Ciro Gomes, Eymael, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, João Amoedo e João Goulart Filho. Henrique Meirelles, Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Vera Lúcia e Jair Bolsonoro não mencionaram seus planos para o setor cultural.

Agora é com você. Deixamos os planos dos candidatos à Presidência da República nas eleições 2018 pra você: Lula – Haddad (PT); Guilherme Boulos (PSOL); Marina Silva (Rede); Ciro Gomes (PDT); Geraldo Alckmin (PSDB); Henrique Meirelles (MDB); Alvaro Dias (Podemos); João Amoêdo (Novo); Cabo Daciolo (Patriota); João Goulart Filho (PPL); Vera Lúcia (PSTU); José Maria Eymael (DC) e Jair Bolsonaro (PSL). 

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